Título: Operação sufoco
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2009, Mundo, p. 18

Brasil-Colômbia

Lula se reúne no Rio com o colega Álvaro Uribe, que visita o país pela segunda vez em dois meses para coordenar uma ofensiva contra as linhas de abastecimento da guerrilha a partir das fronteiras

Dois meses depois de sua última visita a Brasília, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, volta a se encontrar hoje com o colega brasileiro, desta vez no Rio de Janeiro, em meio aos preparativos finais para a 5ª Cúpula das Américas, que se reúne a partir de sexta-feira em Trinidad e Tobago. Uribe participará da versão latino-americana do Fórum Econômico Mundial e manterá encontro com empresários brasileiros, mas com Lula o assunto será a cooperação bilateral em questões de defesa. Mais concretamente, Uribe deve apresentar as linhas gerais do novo plano de combate que seu governo pretende colocar em prática para estrangular a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

¿A fera está ferida, e agora temos de manter a iniciativa para dar a estocada final¿, disse o ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, que no início do mês anunciou os planos para o que chamou de ¿salto estratégico¿ no combate às Farc. A concepção geral está delineada na expressão escolhida pelo ministro para ilustrar o objetivo, uma imagem inspirada nas touradas. Um ano depois de ter tirado de combate dois dos sete integrantes do alto comando guerrilheiro ¿ que perdeu no mesmo período, por causas naturais, o histórico líder Manuel Marulanda ¿ e de ter resgatado com sucesso os reféns mais preciosos em poder dos rebeldes, o governo de Uribe quer asfixiar os núcleos combatentes até o ponto da rendição ou do aniquilamento.

A operação se desdobra em direções complementares. A mais imediata é a concentração de efetivos militares e policiais em novos comandos conjuntos, que receberão reforços de outras regiões do país para manter ¿uma ofensiva maciça e sustentada¿ contra as unidades guerrilheiras com ¿poder real de combate¿. Na frente de inteligência, serão redobrados os esforços para localizar e se possível abater outros líderes, em especial o sucessor de Marulanda, Alfonso Cano, e o chefe de operações militares, Jorge Briceño. Paralelamente, já começou uma investida policial-judicial contra os braços políticos das Farc: o Partido Comunista Clandestino e o Movimento Bolivariano, cuja infiltração é apontada pelas autoridades em sindicatos, organizações estudantis e movimentos sociais.

Blindagem Mas o que diz respeito diretamente ao Brasil e aos demais vizinhos é a diretiva para realizar ¿um esforço de contenção (da guerrilha) nas fronteiras¿. Depois de seis anos de combate implacável às Farc, com resultados positivos principalmente na segurança das grandes cidades ¿ começando pela capital, Bogotá ¿ e na recuperação das estradas, o governo dá sinais de que acusou os golpes do último mês e meio. Em março, para marcar o aniversário da morte de seus comandantes, a guerrilha desencadeou ações ofensivas em mais de uma região do país, principalmente em um arco que se estende do Pacífico para o oriente, ao sul da capital. Elas incluíram não apenas ataques a patrulhas e bases policiais, mas também o bloqueio de vias em áreas rurais e ataques mais ousados em centros urbanos, como um fustigamento à residência do governador do departamento de Cauca, no sudoeste (veja mapa).

Analistas do conflito e políticos colombianos do governo e da oposição coincidem na avaliação de que, entre os vizinhos, o Brasil se tornou nos últimos anos o mais confiável para Uribe. O marco dessa aliança que Bogotá já trata como preferencial foram os acordos de defesa firmados em julho passado, durante uma visita de Lula por ocasião das comemorações da independência (leia quadro abaixo). ¿O Brasil é o único país da região com o qual temos acordos prevendo a perseguição `quente¿ (de guerrilheiros)¿, ressaltou o jornal El Tiempo, o principal do país, controlado pela família do ministro da Defesa.

A concatenação de ações com o Brasil, tema no qual Bogotá insiste desde o início do Plano Colômbia, em 2000, é fundamental para asfixiar as estruturas sob comando direto de Briceño, pertencentes ao Bloco Oriental ¿ um dos mais numerosos e poderosos, ao lado do Bloco Sul e do Comando de Centro e Ocidente, este sob as ordens de Cano. Desde o início do ano, a Força Aérea colombiana fez seguidos bombardeios contra acampamentos de Briceño.

A linha de abastecimento do Bloco Oriental se estende do leste do país em direção à capital, transportando armas e mantimentos contrabandeados do Brasil e da Venezuela. Mas a geografia colombiana oferece corredores fluviais em território plano a partir da fronteira brasileira.