Título: Na CPI do PC, Amin cedeu vaga a Bisol
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 06/10/2007, O País, p. 12

Para investigar Collor, ex-senador do PSB participou indicado pelo antigo PDS.

Ameaçado por denúncias, o governo Fernando Collor, em junho de 1992, tentou, sem sucesso, assegurar maioria na CPI que terminaria por levá-lo ao impeachment, a CPI do PC. As articulações do então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Jorge Bornhausen, foram atropeladas por um adversário regional, o senador Esperidião Amin, do PDS (hoje PP) catarinense. Líder do partido, Amin cedeu a vaga da legenda na CPI ao senador de oposição José Paulo Bisol, do PSB gaúcho, que havia concorrido contra Collor em 1989 como vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a manobra, a oposição passou a contar com 12 representantes na explosiva CPI, que vasculhou o esquema de poder montado pelo empresário Paulo César Farias, o PC, tesoureiro de Collor na campanha. E o governo, dez. A base de Collor no Senado tentou anular a decisão de Amin, mas o então presidente da Casa, Mauro Benevides (PMDB-CE), indeferiu o recurso.

O gesto de Amin surpreendeu governo e oposição. Ele abriu mão da vaga do PDS como forma de demonstrar a insatisfação dos governistas de Santa Catarina com a demora do Planalto em liberar verbas para a conclusão de uma barragem contra as secas no estado.

Antes do convite a Bisol, Amin ofereceu o posto na CPI ao senador Jarbas Passarinho (PA), de seu partido. Ex-ministro da Justiça de Collor, Passarinho se recusou a participar da CPI, argumentando que era "carta marcada" e qualquer atitude contra o governo seria interpretada como revanche.

- Fiquei surpreso. Não esperava. Já que estou aqui, pode ficar tranqüilo. Vou atuar como magistrado, baseado nos 30 anos de experiência - reagiu Bisol, um ex-juiz.

Com a decisão de Amin, Jorge Bornhausen chegou a ameaçar deixar o governo Collor.