Título: PSDB oferece vagas na CCJ a Jarbas e Simon
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 06/10/2007, O País, p. 12

Peemedebistas históricos foram afastados da comissão por seu próprio partido para dar lugar a aliados de Renan.

BRASÍLIA. O PSDB ofereceu aos senadores do PMDB Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE) o espaço que perderam na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), divulgou nota anunciando que, se o PMDB não recuar da decisão de destituir Jarbas e Simon dos cargos na CCJ, os tucanos abrirão mão de duas vagas em favor de ambos. Apesar da sessão esvaziada, o plenário foi palco de protestos e apelos ao líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), para que revisse sua posição, anunciada anteontem.

"Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos são marcas de dignidade, coragem e honestidade, exemplo para as novas gerações, como homens que não se curvaram nem traíram seus princípios, mesmo nos períodos mais negros do arbítrio. Este ato de violência, com nítido caráter de represália pela firme posição destes dois ícones da política brasileira em defesa do Senado Federal, contradiz e macula a história do PMDB", diz a nota do PSDB. "Aguardamos que tal decisão seja revista. Em não sendo reformulada, o PSDB sentir-se-á honrado em ceder a tão ilustres parlamentares vagas de que dispõe na comissão".

"O que fizeram foi canalhice, covardia"

Na próxima terça-feira, Jarbas e Simon deverão se reunir para definir uma estratégia conjunta de reação. Colegas de bancada, como Geraldo Mesquita (PMDB-AC), estão dispostos a acompanhá-los. De Cochabamba, na Bolívia, Mesquita externou sua indignação com o afastamento dos dois da CCJ, e promete entregar todos os cargos que representa em nome do PMDB, em sinal de protesto.

- O que fizeram foi uma canalhice, uma coisa absurda, uma covardia. Eu não reconheço mais a liderança de Raupp no PMDB. Por isso, estou me demitindo de todas as funções que me foram delegadas pelo partido. Só não renuncio à minha filiação - disparou Mesquita, prometendo articular um movimento suprapartidário de solidariedade a Jarbas e Simon.

Cristovam Buarque (PDT-DF) anunciou em plenário a decisão de Mesquita. Como um dos poucos parlamentares que estavam ontem em Brasília, Cristovam leu também da tribuna uma manifestação de solidariedade de Eduardo Suplicy (PT-SP) aos dois senadores peemedebistas e um apelo deixado por Heráclito Fortes (DEM-PI) para que o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) intercedesse junto a seu partido para reverter a decisão contra Jarbas e Simon.

Diante da repercussão negativa de sua decisão, Raupp, que já havia viajado para Rondônia, voltou ontem a Brasília. Ele acabou revelando que foi surpreendido com a antecipação da leitura do ofício que oficializou a substituição de Jarbas e Simon na CCJ. Segundo ele, havia um pedido expresso para que o documento só fosse lido depois que tivesse comunicado antecipadamente a decisão aos dois.

- Não era para ter sido daquele jeito - disse Raupp, deixando transparecer que teria se sentido traído pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), responsável pela ordem à secretária-geral da Mesa, Cláudia Lyra, para a leitura do documento na quinta-feira.

Raupp, na verdade, resistia havia mais de dois meses à pressão de peemedebistas para que substituísse Jarbas e Simon na CCJ, uma comissão estratégica. A decisão, no entanto, só teria sido tomada na última terça-feira num jantar da bancada.

- O PMDB precisava desses votos e os senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon vinham votando sistematicamente contra as decisões da bancada. São ossos do ofício. Cumpri uma decisão tomada pela maioria. Mas, se eles quiserem, poderão ir para outras comissões, como a de Relações Exteriores ou de Assuntos Sociais.

Raupp também não gostou de saber que o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), teria dito que decisões como essas são legítimas mas precisam ser ponderadas do ponto de vista político. O líder reagiu às criticas de Mesquita:

- Ele fala assim porque não está no meu lugar. Mas bem que gostou do meu apoio no Conselho de Ética, quando precisou - observou Raupp, numa referência ao processo que Mesquita enfrentou no Conselho por causa da denúncia de que ele embolsaria parte do salário de funcionários de seu gabinete.

O presidente do PPS, Roberto Freire, divulgou ontem uma moção de solidariedade aos senadores peemedebistas. Na sua avaliação, Renan Calheiros não seria o único responsável direto pela decisão do PMDB:

- É uma atitude menor, tacanha, e não foi só do Renan, foi também do Planalto.