Título: Ciro manda repórter calar a boca
Autor: Baldissarelli, Adriana
Fonte: O Globo, 06/10/2007, O País, p. 14

Deputado se irrita com perguntas sobre seu amigo sob investigação.

FORTALEZA. O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) interrompeu ontem uma entrevista depois de mandar um repórter da "Época" calar a boca. O motivo da irritação foi o fato de o jornalista Rodrigo Rangel ter insistido com perguntas relativas ao envolvimento de um amigo e arrecadador de fundos da campanha de Ciro com uma operação ilegal no Banco do Nordeste. Reportagem da revista mostrou que o diretor de Administração do banco, Victor Samuel, assinou, irregularmente, um acordo que reduziu de R$65 milhões para R$6,6 milhões uma dívida da empresa Frutan com o banco.

O episódio ocorreu pouco antes de Ciro dar uma palestra no Sebrae, em Fortaleza. O jornalista insistiu no assunto até que Ciro, irritado, disparou:

- Cala a boca, deixa eu acabar de falar - disse, interrompendo a entrevista.

Na palestra, Ciro voltou a se referir ao episódio:

- Utiliza-se de um escândalo e de outro e de outro para espalhar cocô sobre toda questão política do Brasil. Eu mesmo estou profundamente aborrecido com a calúnia que experimentei, mas não tem problema porque eu sou limpo. Não tenho rabo de palha e vou enfrentar isso na Justiça.

Na entrevista, antes de indispor-se com o jornalista, Ciro falou sobre como estava sua relação com Victor Samuel, afastado do cargo para investigação. Disse que eram amigos e que, até prova em definitivo, não acredita que ele tenha cometido irregularidade.

O deputado disse que havia sido caluniado e que só depois da publicação da reportagem ficou sabendo que o acordo que permitiu a renegociação da dívida da empresa com o banco teria ocorrido por uma sentença homologatória de um juiz do Piauí. O repórter disse:

- Não sei se o senhor sabe, mas essa sentença foi baseada justamente no acordo assinado por Victor Samuel.

Ciro quis interromper:

- O assunto está encerrado!

O repórter insistiu, Ciro reagiu de novo:

- Vá investigar, amigo, ou então afirme o que você quiser. O que quero dizer é que eu só soube depois. Não tenho nada com isso, não sou diretor do banco, nunca interferi, nunca tive influência sobre qualquer operação do banco - disse Ciro.