Título: Trânsito faz tantos mortos quanto guerra no Iraque
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 07/10/2007, O País, p. 9

Em 2005, 35 mil brasileiros morreram em ruas e estradas; governo iraquiano relata 37 mil vítimas por ano desde 2003.

SÃO PAULO. O Brasil vive uma guerra nas estradas. Segundo dados do Ministério da Saúde, a comparação vai além da metáfora. O trânsito brasileiro mata quase tanto quanto a guerra do Iraque. Em 2005, cerca de 35 mil pessoas morreram nas ruas e estradas brasileiras. A média anual de vítimas no Iraque, desde a ocupação americana, em maio de 2003, é de 37 mil, de acordo com o governo iraquiano.

- É uma estupidez, pois 99% dos casos são o que chamamos de acidentes evitáveis. É um genocídio - disse Ailton Brasiliense Pires, ex-diretor do Denatran e um dos maiores especialistas em trânsito do país.

Em apenas um mês, morre no trânsito do Brasil o equivalente a todos os soldados americanos que faleceram nos quatro anos de ocupação iraquiana (3.350). No período de 30 dias, as vias nacionais registram o mesmo número de mortos do atentado às torres gêmeas, que matou 3.234 pessoas, em 11 de setembro de 2001.

No mês de julho, só nas rodovias federais morreram 700 pessoas. O acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas, em julho, deixou 199 vítimas fatais. A tragédia nas estradas brasileiras é 22 vezes maior do que a guerra entre Israel e o Líbano, que matou cerda de 1.600 pessoas no ano passado, e supera em 57% o montante de vítimas do terrorismo em todo o planeta em 2006 (20.498, segundo o Centro de Controle de Terrorismo do Departamento de Estado dos EUA).

Na guerra entre Irã e Iraque, que atraiu as atenções do planeta durante oito anos, na década de 80, morreram 22 mil pessoas por ano, 38% menos do que nas estradas do Brasil. O conflito entre russos e separatistas da Chechênia, considerado um dos mais negativos da Europa oriental, deixou 16 mil mortos, menos da metade do que o trânsito brasileiro. Na guerra entre a extinta União Soviética e o Afeganistão morreram 20 mil pessoas por ano entre 1979 e 1989.

Os mortos nas estradas são dez vezes mais que as média anual de 3.500 vítimas fatais da guerra civil de Angola. Segundo Brasiliense, em 2002 o trânsito matou 1,2 milhão de pessoas em todo o mundo; as guerras vitimaram 400 mil pessoas.

- São três vezes mais! Um holocausto - comparou ele.