Título: Problema brasileiro
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2009, Cidades, p. 21

O fechamento de emergências pediátricas e leitos de internação em hospitais particulares não é um problema exclusivo da capital federal. Em quase todos os estados, a situação se repete. Mas, para o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria e professor da Universidade de Brasília, Dioclécio Campos Júnior, não faltam profissionais. ¿O número de pediatras diminuiu porque a taxa de fertilidade no país também caiu. Nos anos 60, cada família tinha, em média, 5,8 crianças. Atualmente, esse índice é de apenas 1,8. O Brasil tem 20 pediatras para cada 100 mil habitantes, o equivalente à média dos países europeus¿, garante o especialista.

Para Dioclécio, o fechamento da pediatria em hospitais privados é motivado por questões financeiras. ¿A rede privada obedece unicamente aos interesses financeiros e, por isso, leitos pediátricos estão sendo substituídos por atividades mais lucrativas. Isso prejudica a população e descaracteriza essas unidades como hospitais gerais. Do aspecto ético e moral, isso é absolutamente condenável e precisa ser corrigido¿, afirma. O médico lembra que o atendimento pediátrico é um serviço essencial. ¿Nossa legislação dá prioridade à infância e à adolescência. O pediatra é importante para evitar que os adultos tenham problemas no futuro e para criar uma sociedade saudável¿, frisa.

O presidente da Associação dos Médicos de Hospitais Privados, Joaquim de Oliveira, afirma que a valorização da especialidade é importante para a manutenção do atendimento infantil de qualidade. ¿Os pediatras têm um papel relevante na prevenção de doenças. Mas como a maioria dos consultórios foi fechada, as emergências acabam superlotadas¿, avalia. A associação negocia com planos de saúde a possibilidade de ajustar os valores das consultas para especialidades nas quais não há procedimentos agregados, como a pediatria.

Imediatismo Profissionais que atuam na cidade há décadas observam com pesar a desvalorização crescente da especialidade. Oscar Mendes Moren, 79 anos, chefiou a unidade de pediatria do Hospital de Base de 1960 a 1991, quando se aposentou. Até hoje, Moren trabalha na área, mas lamenta o desgaste da profissão. ¿No Brasil, médicos e professores são mal remunerados, justamente carreiras entre as mais importantes para a sociedade¿, reclama. Ele lembra que a maioria dos novos médicos opta por áreas como a dermatologia, a cirurgia plástica ou a oftalmologia, algumas das mais rentáveis. ¿A medicina é um curso longo, ao se formar, o profissional já está com quase 30 anos. Assim, ele acaba pensando com imediatismo e escolhe a especialidade pela remuneração¿, critica. (HM)