Título: Troca-troca com o aval do Planalto
Autor: Brígido, Carolina e Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 07/10/2007, O País, p. 14

Promessas de cargos e emendas inflam partidos da base; PR quase dobra.

BRASÍLIA. Liberação de emendas de parlamentares ao Orçamento, distribuição de cargos, garantia do comando partidário nos estados e, principalmente, o aval do Planalto. Essa foi a lógica que prevaleceu nesta nova temporada de troca-troca partidária, que resultou em 46 deputados mudando de partido, a maioria em direção à base governista. Foi também a receita cumprida à risca pelo partido recordista no troca-troca, o PR, antigo PL, que quase dobrou a bancada eleita em outubro de 2006, tornando-se um tipo de sublegenda do governo na Câmara para abrigar antigos oposicionistas.

O troca-troca fez o PR pular de 23 deputados, eleitos pelo PL, para 42. Apenas três estão ameaçados de perder o mandato com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que restringiu a infidelidade partidária. O líder da bancada, deputado Luciano Castro (PR), na sexta-feira comemorou:

- Adotamos uma estratégia ousada. Mudamos até o nome do partido. Poderíamos ter crescido mais, mas o resultado foi positivo e conseguimos escapar do Supremo. Não sei por que tanta reação. PSDB e DEM já fizeram o mesmo.

Segundo disse, o inchaço dos partidos sempre existiu e não foi invenção do PR. Ele mostrou números do PFL (atual DEM) e do PSDB na época da posse do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, e três anos depois. Naquela legislatura, o PFL assumiu com 89 deputados e pulou para 110 deputados; e o PSDB elegeu 62 deputados e terminou com 97 durante o primeiro mandato do tucano:

- Sempre foi assim! Vários deputados precisam estar na base aliada. Caso contrário, perdem prefeitos e vereadores.

O PR adotou uma estratégia agressiva. Primeiro assegurou o comando do Ministério dos Transportes para o senador Alfredo Nascimento (PR-AM). Depois, montou uma central de distribuição de cargos. Com essa promessa, conseguiu atrair muitos deputados.

Semana passada, depois de seis meses, foi aprovada no Senado a indicação de Luiz Antonio Pagot para a diretoria geral do Dnit - ele é afilhado político do governador Blairo Maggi (MT), que saiu do PPS para o PR. Pagot foi aprovado mesmo sendo acusado de ter trabalhado como funcionário do Senado e, simultaneamente, numa empresa privada, durante oito anos. A partir da nomeação de Pagot, dezenas de outros cargos menores virão.

O PR joga pesado. Semana passada, ameaçou obstruir a votação de medidas provisórias na Câmara por causa de cargos que não saíram. O Planalto garantiu negociar.