Título: Renan é acusado de espionar adversários
Autor: Brígido, Carolina e Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 07/10/2007, O País, p. 14

Corregedor vai investigar se assessor do senador tentou um plano para constranger Demóstenes e Marconi Perillo.

BRASÍLIA. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), anunciou ontem que vai abrir investigação preliminar na quarta-feira para apurar a denúncia de que um assessor do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), estaria envolvido em esquema de espionagem contra dois senadores: Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO), como revelou o blog do jornalista Ricardo Noblat. Tuma deverá consultar também a Polícia Federal para saber que há em curso alguma apuração sobre o caso. O corregedor pretende fazer o mesmo contra o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que, segundo a última edição da revista "Veja", teria usado laranjas para controlar uma emissora de TV e uma rádio em Roraima.

- No caso de Renan, se for comprovada a denúncia, é intolerável espionagem contra um senador e inconcebível a violação da intimidade de qualquer pessoa. É assustadora a velocidade com que denúncias atingem o Senado. Todas devem ser apuradas com rigor - declarou Tuma, em visita ao Uruguai.

Câmeras para flagrar senadores em jatinhos

Demóstenes disse que pedirá à direção do DEM que apresente nova representação por quebra de decoro parlamentar contra Renan. Segundo Demóstenes, o ex-senador do PMDB Francisco Escórcio, assessor de Renan, estava à frente do plano de bisbilhotar a vida privada dos oposicionistas. A intenção seria colher elementos para elaborar dossiês contra os senadores. Em viagem a Goiânia no último dia 24, ele teria tentado cooptar o apoio do empresário e ex-deputado goiano Pedrinho Abrão. O plano era instalar câmeras no hangar de táxi aéreo de Abrão para flagrar os senadores embarcando em jatinhos particulares e, posteriormente, usar o material para chantageá-los e forçá-los a baixar o tom das críticas ao presidente da Casa.

Demóstenes acusa Renan de recrutar o assessor para promover uma devassa em sua vida privada e na de Perillo. Ontem, o senador comparou a suposta tentativa de espionagem ao caso Watergate, que levou à renúncia do presidente americano Richard Nixon, em 1974.

- Renan não é ministro do Supremo para investigar parlamentares. É um espião sentado no trono do Senado. A quebra de decoro está clara, e o objetivo era mudar nossa convicção com chantagens. Por muito menos, Nixon renunciou.

Também fariam parte do esquema, de acordo com Demóstenes, os advogados Heli Dourado e Wilson Azevedo, que prestam serviços ao PMDB no estado. Depois de recusar a proposta, Abrão teria procurado os dois oposicionistas para alertá-los sobre a ação de arapongas a mando de Renan. O democrata diz ter se convencido da veracidade da história na quarta-feira passada, quando Escórcio lhe contou, no restaurante do Senado, ter se reunido com os advogados em Goiânia.

Demóstenes disse que Renan repete a estratégia usada no início da crise. Na época, o peemedebista teria espalhado rumores para intimidar colegas como Pedro Simon (PMDB-RS), Jefferson Péres (PDT-AM) e José Agripino Maia (DEM-RN).

- Um grupo de salteadores e desqualificados tomou conta do Senado e acha que pode fazer o que quiser - disse.

Francisco Escórcio confirmou ter encontrado Pedrinho Abrão, de que se diz amigo, mas negou a conversa sobre grampo ou dossiês contra senadores.

- Não fui tratar nada disso (de grampo). Pelo fato de eu ser ligado a Renan, estão inventando essa história toda para incriminá-lo - disse.

O senador Marconi Perillo e o presidente do Senado, Renan Calheiros, não foram encontrados para comentar o caso.

Senador Romero Jucá é acusado de usar laranjas

Segundo a revista "Veja", Romero Jucá é acusado de controlar duas emissoras - a TV Imperial e a Rádio Equatorial - por meio de laranjas. De acordo com a revista, o cunhado do senador, Emílio Surita, apresentador do programa "Pânico na TV", controla as empresas e passou uma procuração para o advogado Alexandre Matias Morris administrá-las. Morris também é administrador da TV Caburaí, da qual Jucá seria dono.