Título: Em Tocantins, casca de arroz queima nos fornos em vez da tradicional lenha
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 07/10/2007, Economia, p. 34

MONITORANDO A FLORESTA: Indústria de cerâmica muda sua fonte de energia.

Velocidade de uso da madeira chamou a atenção dos pesquisadores.

PALMAS, Tocantins. Prestes a completar 20 anos de existência, o estado de Tocantins virou alvo fácil de uma combinação bombástica. Para atender ao aquecimento repentino da demanda local por material de construção, os empresários adotaram as queimadas e o desmatamento como prática para alimentar seus fornos. Só que a velocidade com que a madeira vinha sendo queimada chamou a atenção dos pesquisadores do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA, da sigla em inglês). Mudar a matriz energética do setor de cerâmica era a única opção à vista, e a escolha recaiu sobre a casca de arroz.

A troca foi triplamente rentável. Os custos foram reduzidos à metade. A casca do arroz, que estragava a céu aberto, emitindo gás metano, agora tem serventia. E há a possibilidade de investir no mercado de créditos de carbono, que pode se tornar uma das mais importantes commodities do mundo. Em sete anos, a Milenium - uma fabricante de médio porte local, com uma produção mensal de um milhão de peças - vai faturar R$3,4 milhões com a venda de 240 mil toneladas em créditos de carbono. Por esse mecanismo, empresas que adotam tecnologias limpas convertem a redução de emissão de gás carbônico em créditos de carbono, vendidos a companhias poluentes.

- Foi uma das boas tacadas deste ano - diz Ezequiel de Souza, dono da Milenium.

O projeto de substituição adotado em Tocantins é fruto da parceria entre o Instituto Ecológica e o Sebrae. Tudo começou há três anos, com o Arranjo Produtivo da Cerâmica Vermelha (APL, que define a aglomeração de empresas com a mesma especialização operando num mesmo local).

O avanço das empresas sobre a floresta e o cerrado vinha devastando Tocantins. Num universo de 65 empresas de cerâmica incluídas no diagnóstico do instituto, um quarto vinha consumindo mensalmente 7.500 metros de lenha. Para zerar esse passivo ambiental, seria necessário o plantio de 45 mil árvores anualmente. Só que a reposição florestal, como foi diagnosticado, é uma prática sonegada. Uma única empresa de cerâmica consome, em média, 900 hectares de cerrado por ano.

A São Judas, outra cerâmica de médio porte, está vendendo créditos de carbono, num volume total de R$3 milhões, apenas com a substituição da lenha pela casca de arroz.