Título: Rodovia da Morte: um perigo em cada curva
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 08/10/2007, O País, p. 4

UMA TRAGÉDIA BRASILEIRA: Trecho da BR-116 está no primeiro lote de licitações para concessão à iniciativa privada

Falta de sinalização e buracos provocam acidentes na Régis Bittencourt.

SÃO PAULO. O trecho da BR-116 entre São Paulo e Curitiba, que consta no primeiro edital de um lote de sete licitações publicado pelo governo em agosto para a concessão de rodovias federais, é atualmente uma colcha de retalhos. Trechos bons e regulares se alternam com outros, péssimos, em todos os 401,6 quilômetros da Régis Bittencourt, conhecida como a "Rodovia da Morte", devido ao elevado número de acidentes.

Motoristas e policiais rodoviários que conhecem bem a estrada avaliam que, no geral, a situação é regular. Há muitos buracos, que se multiplicam a cada chuva, a sinalização é falha, os caminhões são pelo menos 70% dos veículos em trânsito, existem curvas perigosas e muitos trechos não têm acostamento, por isso os motoristas devem trafegar com muita atenção.

- Quem conseguir a concessão dessa rodovia vai ter muito trabalho. É muita coisa para consertar - constata um veterano policial rodoviário, que não se identifica, por ser proibido de dar entrevistas.

Trecho mais arriscado fica na Serra do Cafezal

Diariamente, 25 mil veículos saem de São Paulo pela BR-116 em direção à Região Sul, de acordo com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). A Régis Bittencourt é uma das poucas entre as mais importantes rodovias do país que ainda não foram privatizadas. O processo de concessão, cujo edital foi publicado no Diário Oficial da União em 16 de agosto, está paralisado por liminar judicial.

Logo depois de São Paulo, em direção ao Sul, o primeiro e principal obstáculo da Régis Bittencourt é a Serra do Cafezal. São 31 quilômetros de pista única, onde caminhões se concentram nas longas subidas, puxando filas intermináveis, um teste de paciência para qualquer motorista. Sinuoso e normalmente perigoso, o trecho é muito mais arriscado com chuva.

- Quando chove, tem muito mais acidente. Como os caminhões sobem devagar e na descida têm de frear, os acidentes não chegam a ser muito graves. Mas acontecem sempre - diz outro policial rodoviário. - Logo depois que instalaram as lombadas eletrônicas, diminuiu muito o número de acidentes. Mas a maioria agora não funciona, por falta de manutenção.

Muitos motoristas de caminhão, ao verem a reportagem do GLOBO na beira da estrada, nem precisaram parar para falar sobre o que consideram o principal problema que enfrentam:

- Mostra os buracos! - era o grito unânime.

Um experiente policial rodoviário dá o diagnóstico:

- É só melhorar a conservação que acabam 80% dos acidentes.

De acordo com o Dnit, há duas frentes de trabalho para manutenção e conservação da rodovia no trecho de 300 quilômetros entre São Paulo e a divisa com o Paraná. Uma está em operação entre a divisa de São Paulo e Taboão da Serra com o município de Juquiá, do quilômetro 268,9 ao 406,7. A outra, em fase de licitação, abrange o pedaço entre os quilômetros 467,8 e 568,9. O Dnit mantém ininterruptamente a Operação Tapa-Buraco, que atua conforme as necessidades mais urgentes.

Domingo, em direção a São Paulo, uma fila de caminhões

No trajeto em direção ao Sul, motoristas e policiais rodoviários acreditam que de segunda a sexta-feira 80% dos veículos que trafegam pela BR-116 sejam caminhões. Nos fins de semana, há mais veículos de passeio, mas os caminhões ainda prevalecem. No trecho inverso, em direção a São Paulo, o "inferno" acontece aos domingos.

- Isso aqui vira uma fila só de caminhão. Parece que eles ficam esperando chegar o domingo para saírem todos juntos - diz um policial.

O inspetor Edson Varanda, chefe do Núcleo de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal em São Paulo, afirma que os dois pontos mais críticos da Rodovia Régis Bittencourt são a Serra do Cafezal e o trecho de serra, também ainda no Estado de São Paulo, próximo à divisa com o Estado do Paraná. Neste segundo trecho, segundo ele, há muitas curvas perigosas, e o traçado da via não ajuda os motoristas.

NO RUMO DA PRIVATIZAÇÃO, na página 16

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