Título: Renan é alvo de mais uma ação
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 09/10/2007, O País, p. 3

E cresce movimento suprapartidário que pede saída do presidente do Senado.

BRASÍLIA. O Conselho de Ética do Senado deverá receber nos próximos dias a quinta representação, por quebra de decoro parlamentar, contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), anunciou ontem que apresentará hoje o pedido de investigação da denúncia de que ele teria usado um assessor especial, o ex-senador Francisco Escórcio, para espionar dois colegas favoráveis à cassação de seu mandato: os goianos Marconi Perillo (PSDB) e Demóstenes Torres (DEM). Voltou a ganhar força na Casa a pressão pelo afastamento de Renan da presidência.

A nova denúncia se soma à revolta na Casa pelo afastamento dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e ajuda a reforçar um movimento suprapartidário pelo afastamento de Renan. A expectativa é de que, agora, esse movimento passe a contar com o apoio do PT.

- A Casa se voltou contra Renan. Só lhe restou uma pequena tropa de choque, que nada mais é do que um grupo de patifaria. Não dá mais para o Senado continuar sendo um centro de patifaria e canalhice. Vamos exigir a abertura imediata de um novo processo para investigar as novas denúncias. E, desta vez, o PT terá de apoiar. Se não se juntar a esse movimento, será o fim da governabilidade do PT. Ele será sócio-proprietário dessa patifaria - afirmou Tasso.

PMDB pode rever decisão que afastou Jarbas e Simon da CCJ

Preocupado com o agravamento do clima de confronto no Senado, especialmente depois da destituição de Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon das vagas de titulares da CCJ, o ex-líder governista Aloizio Mercadante (PT-SP) passou ontem o dia em reuniões para tentar contornar a crise provocada pela decisão do líder do PMDB, Valdir Raupp (RO). Mercadante adiantou a disposição da bancada petista de apoiar o movimento contra Renan, identificado como o responsável pelo afastamento dos dois peemedebistas históricos da CCJ.

- Eu concordo que tem que ser um movimento suprapartidário. É uma questão de defesa do Senado e tenho certeza que os senadores do PT apoiarão essa iniciativa - disse Mercadante.

O vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), propôs a abertura de uma sindicância para investigar a nova denúncia contra Renan e o afastamento imediato de Escórcio.

- As denúncias são graves e merecem que o presidente Renan afaste o servidor e peça abertura de uma sindicância - cobrou Viana.

Para o líder do Democratas, José Agripino Maia (RN), a nota divulgada ontem por Renan negando as denúncias é insuficiente. Segundo Agripino, caso novas explicações não sejam dadas, o DEM deverá assinar em conjunto a representação do PSDB contra Renan.

- Isso não é normal. O que me chama a atenção é que não há qualquer demonstração da parte de Renan de que ele tenha se assustado com isso. Quando alguém toma conhecimento de que houve alguma coisa errada, se ele tenta protegê-lo, é porque há uma conexão. Ele teria que ter demitido o assessor - disse o senador Demóstenes Torres, numa referência ao fato de Renan não ter demitido Escórcio.

Cresce também a pressão no PMDB para que Raupp reveja sua decisão de afastar Jarbas e Simon da CCJ. O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), chegou a fazer um apelo para o líder peemedebista voltar atrás. Pelo menos sete dos 19 senadores da bancada já se solidarizaram publicamente com os dois colegas afastados e prometem pressionar Raupp a realizar uma reunião para discutir o assunto. O PSDB voltou a oferecer duas vagas na CCJ para os senadores peemedebistas.

- Numa Casa que se encontra tão degradada como o Senado nos dias atuais, ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de se surpreender com essas medidas pequenas e tacanhas. É injusto, profundamente injusto, atribuir isso apenas a uma questão do PMDB, da liderança do PMDB, que não tem dimensão para tal. A medida foi tomada pelo presidente, o que senta nessa cadeira, o senhor Renan Calheiros, que tem levado esta Casa à sarjeta - lamentou Jarbas, ao agradecer o apoio recebido por vários colegas em plenário.

Jarbas e Simon deverão ser homenageados hoje à noite num jantar da desagravo promovido pelo deputado José Aníbal (PSDB-SP), que deverá contar com representantes da Câmara que lideram o chamado movimento da terceira via, que vem defendendo o afastamento de Renan da presidência do Senado.