Título: Um estrangeiro entre os maiores
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 09/10/2007, Economia, p. 23

Com aquisição do ABN, Santander passa Itaú e será o 2º banco privado do Brasil.

Maior operação já feita no mercado bancário brasileiro, a venda do Real ABN Amro para o Santander vai colocar, pela primeira vez, uma instituição estrangeira em pé de igualdade com Bradesco e Itaú, que sempre lideraram com folga o ranking do setor privado. Entre os bancos privados, o Santander passará a ser o segundo maior do país por ativos (desbancando o Itaú), o primeiro em depósitos e o terceiro em operações de empréstimo. Ontem, o banco espanhol, o escocês Royal Bank of Scotland e o belgo-holandês Fortis informaram que cerca de 86% dos acionistas do holandês ABN aceitaram a oferta de 72 bilhões de euros (US$102 bilhões) feita pelo consórcio, após o britânico Barclays ter retirado sua proposta mais baixa na sexta-feira, após seis meses de disputa.

Como a condição de aceitação mínima pelos acionistas era de 80%, o trio de bancos deve declarar a oferta incondicional esta semana, assim que o Fortis levantar 13 bilhões para financiar o negócio, no que será a maior aquisição da história da indústria bancária mundial. O Santander é tido como o ganhador frente aos outros parceiros do consórcio, já que assumirá os ativos do ABN no Brasil e na Itália, além de unidades de financiamento ao consumidor na Holanda.

- O consenso é que o negócio vai adicionar 5% ou 6% ao lucro (do Santander) a partir de 2008, é muito positivo - disse um analista que não quis ser identificado. - Eles ficaram com o melhor entre os três compradores.

Consumidor não deve ser beneficiado

No Brasil, o banco espanhol vai ampliar sua base geográfica (hoje, 70% das suas 2.026 agências estão no Sudeste) e fortalecer a atuação no mercado de crédito, já que, ao levar o Real, vai controlar a Aymoré - uma das maiores e mais antigas financeiras do país, líder no financiamento de veículos.

- É a oportunidade do século para o Santander. Após comprar o Banespa (em 2000), o banco perdeu terreno para os concorrentes durante a integração de sistemas. Mais tarde, teve de repassar à Nossa Caixa (banco estatal paulista) a administração da conta do funcionalismo. Agora, com o Real, pode dar a volta por cima - disse a analista do setor de bancos da Moody"s Ceres Lisboa.

Pelo balanço de junho, a soma de Real e Santander no Brasil representará a criação de um banco com R$277,7 bilhões em ativos, inferior apenas a Banco do Brasil (R$332,9 bilhões) e Bradesco (R$290,5 bilhões). Até então, o posto era do Itaú (R$255,4 bilhões). Em depósitos, o Santander dará um salto de R$34,2 bilhões para R$90,1 bilhões, volume que o colocará no primeiro lugar entre as instituições privadas. O banco também aumentará a participação em empréstimos, atingindo R$94 bilhões.

Em relatório elaborado em maio e distribuído a acionistas para sustentar a proposta pelo ABN, a direção do Santander afirma que vai dobrar sua fatia no mercado brasileiro, de 6% para 12%, chegando a 20% em São Paulo. No Rio, deve pular de 3% para 13%, graças a uma participação de 10% do Real. A instituição vai chegar a 245 agências, contra 263 do Bradesco no estado.

- Na prática, o Santander está comprando um banco maior do que suas operações no país - disse o analista Daniel Araújo, da Standard & Poor"s.

A expectativa do Santander é concluir a integração de modo que as sinergias comecem a influir nos balanços a partir de 2010. A previsão é alcançar em três anos um lucro líquido consolidado de US$3,8 bilhões (cerca de R$6,8 bilhões), ainda cerca de 25% inferior aos de Bradesco e Itaú. Mas os controladores apostam nos ganhos de sinergia, estimados em 810 milhões (R$2,06 bilhões). Espera-se que dê certo, porque o preço pago pelas operações do ABN no Brasil vai corresponder a cerca de três vezes o patrimônio líquido de dezembro.

Positiva para o Santander, dificilmente a operação trará benefício imediato aos consumidores, que não devem esperar por queda mais rápida de spreads ou tarifas. Entre os fatores para isso está a maior concentração do setor. Em 2004, BB, CEF, Bradesco, Itaú e Santander controlavam 45,2% dos ativos e 56,8% dos créditos. Três anos depois, os percentuais já estão em 66,2% e 66,9%, respectivamente.

- Não vejo benefício (ao consumidor). Zero. Como não teve nas outras compras. Só será bom para os acionistas do Santander - disse o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues.

O grupo espanhol chegou ao país em 1982. Em 2000, o Santander Investment comprou o Banespa por R$7 bilhões. O ABN iniciou as operações no Brasil em 1917, como Banco Holandês da América do Sul. Entre suas aquisições estão Real e Sudameris.

(*) Com agências internacionais