Título: OHL operará o dobro de quilômetros da CCR, controlada por portugueses
Autor: Melo, Liana e Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 10/10/2007, Economia, p. 26

INFRA-ESTRUTURA EM FOCO: Mercado teme alta de endividamento da vencedora.

Receio sobre preço de pedágio fez ações da espanhola caírem 3,25%.

A OHL Brasil, controlada pela espanhola Obrascon Huarte Lain, saiu do leilão de rodovias promovido ontem pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), como a maior operadora de concessão de rodovias do país em número de quilômetros. A empresa passará a administrar 3.225,8 km, contra os 1.452 da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR, controlada pelo grupo português Brisa), até agora líder.

Ao arrematar cinco lotes, a OHL superou a CCR em tamanho de malha administrada. Pelos números de 2006, a portuguesa é maior em faturamento. Ano passado, a OHL registrou um resultado de R$80,9 milhões, contra os R$314,5 milhões da CCR, que administra a Autoban (SP) e a NovaDutra, entre outras.

Analistas ressaltaram que a apreensão tomou conta do mercado quando a OHL levou cinco dos sete lotes. O temor é que o preço oferecido pela empresa acabe trazendo taxas de retorno menores. Como reflexo, as ações ordinárias (com direito a voto) fecharam em queda de 3,25%. Logo que a OHL conseguiu os primeiros lotes, os papéis chegaram a ter alta superior a 3%, mas o avanço perdeu fôlego no decorrer do leilão.

- O mercado ainda está tentando absorver o resultado do leilão. Esperava-se uma agressividade maior da CCR. A grande dúvida é saber se o valor oferecido pelo pedágio vai ser suficiente para trazer bons resultados para a OHL - afirmou o gerente de Análise da Modal Asset, Eduardo Roche.

OHL terá que se capitalizar para honrar compromissos

A aposta dos analistas é que a OHL terá que lançar mão de desembolsos, seja pela capitalização, por meio de nova emissão de ações, seja por um endividamento com o lançamento de debêntures ou outros tipos de financiamento. A empresa abriu seu capital em 2005, ingressando no Novo Mercado - segmento da Bovespa que exige regras mais rigorosas de respeito ao acionista minoritário.

A OHL aportou no Brasil em 1997 pelo interior de São Paulo. A indústria de agronegócios era o foco de interesse da empresa, devido ao volume de carga escoada pelas regiões de Ribeirão Preto, Araras e São Carlos. A empresa controla hoje a Autovias, a Centrovias, a Intervias e a Vianorte. Com isso, responde por 11,6% do total de quilômetros das rodovias atualmente sob concessão no Brasil e 10,9% da receita bruta dessas estradas, pelas quais transitam 35% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).

Com o leilão de ontem, a empresa deu o pontapé inicial em seu processo de expansão: os trechos arrematados ampliam o domínio da OHL para a região Sul do país e para o Rio de Janeiro.

Do alto de um faturamento de 3,27 bilhões em 2006, e com atuação distribuída por 17 países, a espanhola OHL é o resultado da fusão de três outros grupos empresariais. O primeiro deles, o Obrascon, nasceu no início do século passado, na região de Bilbao, com a construção das docas do porto de Lisboa. Os dois outros grupos são a Construtora Lain e o Huarte.