Título: Senador não teria mais votos para absolvição
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/10/2007, O País, p. 11

Até Sarney tenta convencer Renan a encontrar saída.

BRASÍLIA. Interlocutores que estiveram ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), traçaram quatro cenários para desanuviar a crise na Casa: uma licença dele do cargo de presidente; a renúncia à presidência, com a garantia de que o PMDB faria o sucessor; um acordo de afastamento por tempo indeterminado do posto; ou o prosseguimento dos processos de cassação. Nesta última hipótese, Renan foi alertado de que não teria mais os votos que o absolveram em setembro, quando foi julgada a primeira das agora cinco representações que tramitam contra ele, acusando-o de quebra de decoro parlamentar.

Numa conversa sincera com o senador, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela, alertou-o de que a situação no Senado mudou completamente depois da sessão de terça-feira, marcada pelo constrangimento e pela tensão, quando vários senadores, inclusive governistas, pediram o afastamento do presidente da Casa. O mesmo disse-lhe o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).

"Essa luta é desigual!", desabafou Renan

O senador José Sarney (PMDB-AP) também foi escalado para convencer Renan a aceitar uma saída negociada. A expectativa do Planalto é que prevaleça em Renan o espírito de sobrevivência para pelo menos ele preservar o mandato.

- Essa luta é desigual! - desabafou Renan para um interlocutor.

De acordo com um ministro, a avaliação é de que o governo tem número, ainda que apertado, para aprovar a CPMF no Senado. O maior problema seria conseguir um entendimento para votar a emenda ainda neste ano.

Pela contabilidade palaciana, o governo contaria com 51 senadores - excluídos os votos dos senadores do PMDB Jarbas Vasconcelos (PE), Mão Santa (PI) e Pedro Simon (RS), além de Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e ainda baixas pontuais no PDT.

O Planalto conta, porém, com os senadores recém-filiados à base governista Edison Lobão (PMDB-MA), César Borges (PR-BA) e Romeu Tuma (PTB-SP). Computa ainda os votos dos senadores do DEM Jonas Pinheiro (MT), ACM Júnior (BA) e Rosalba Ciarlini (RN).

- A sessão de terça-feira foi um divisor de águas. Todos falaram no mesmo sentido: pela licença de Renan. Se isso aconteceu, é porque algo mudou. Agora, temos que ter uma estratégia para acalmar o Senado e construir uma maioria para votar a CPMF, inclusive com os votos da oposição - observou a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).