Título: A máquina
Autor: Thomé, Debora
Fonte: O Globo, 11/10/2007, Economia, p. 28

Agora que a CPMF foi aprovada na Câmara, começará a dura batalha no Senado; hoje dividido, e com seu rei nu. Essa interminável discussão em Brasília tem relação direta com a economia. É como uma engrenagem: para aprovar a CPMF - que onera o setor produtivo, mas possibilita investimentos federais - o governo precisa de votos no Congresso. Para se aliarem, os parlamentares querem cargos, inclusive nas estatais, o que costuma aumentar a ineficiência e a corrupção. De qualquer forma, não aprovar a CPMF também pode ser um problema.

A CPMF não foi inventada no Brasil, mas aqui ganhou força. Foi, depois, exportada para outros países. Criada para ser uma contribuição provisória, já dura 11 anos. Criada para destinar recursos para a saúde, hoje, dos R$40 bilhões, só metade vai para a saúde, R$7 bilhões para diversos auxílios (como maternidade ou doença) e R$10 bilhões para o Bolsa Família.

A arrecadação é realmente alta, e o tributo onera ainda mais o setor produtivo, já tão afogado em impostos. Porém, mesmo alguns economistas que costumam criticar decisões do governo acham que não seria possível abrir mão, desde já, do montante arrecadado com a CPMF.

Na política, este segundo semestre inteiro parece estar sendo carcomido pela teimosia de Renan Calheiros somada à batalha pela CPMF. Há muitos lados ruins nisso para a economia. Um deles: não sobrará espaço para qualquer avanço em direção a uma reforma tributária de verdade. Essa, sim, uma grande discussão que deveria estar tomando o tempo dos políticos, afinal não é só a aprovação ou a desaprovação da CPMF que vai resolver os problemas tributários brasileiros. O formato de tributação no Brasil abriga muitas outras cobranças duplas, mal estabelecidas, que dificultam o crescimento da economia.

Mas, fato é que a CPMF tem mobilizado o jogo político. Ajudou a manter Renan Calheiros onde ainda está, deu Furnas a Luiz Paulo Conde e deve dar outros cargos aos peemedebistas e demais aliados. Na democracia, é normal compartilhar o poder. Mas a forma mercantilista como isso tem sido feito não só é ofensiva, como atrasa o país. É só pensar no risco de a Petrobras, uma empresa bem-sucedida, ter suas tão cobiçadas diretorias trocadas por votos a favor da CPMF.

No Senado, a batalha do governo será bem mais dura. E ele correrá contra o tempo até o fim do ano. O risco é de que, no meio disso, a engrenagem política acabe emperrando a economia.