Título: PT tenta distinguir participação atual do capital privado de modelo tucano
Autor: Paul, Gustavo e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 11/10/2007, Economia, p. 28

INFRA-ESTRUTURA EM FOCO: No próprio partido, há críticas às concessões.

Contrários a privatizações de FH, petistas destacam falta de controle estratégico.

BRASÍLIA. O bem-sucedido processo de concessão de rodovias federais, na terça-feira, colocou os integrantes do PT diante de um fato incontestável: o governo não poderá abrir mão do capital privado na administração de bens públicos. O fato evidencia o dilema do partido, histórico adversário do processo de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso e defensor de um Estado forte. Diante desse contraste, que fica mais agudo em razão do tom adotado nas eleições de 2006, o discurso oficial da linha de frente do PT busca destacar diferenças entre as políticas tucana e atual.

A maioria descarta mudança de tom. O líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), explica:

- Nosso discurso contra a privatização sempre teve um viés, e é bem diferente privatizar estradas de privatizar o que é estratégico, como a Caixa, o Banco do Brasil, a Petrobras.

Para a líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC), enquanto as privatizações representavam a entrega definitiva do patrimônio público, as concessões são temporárias e dão apenas usufruto. As críticas do passado, diz, eram sobre a privatização de ativos, que teria sido mal conduzida e tirado do governo o controle de setores estratégicos:

- Não se deveria ter vendido todo o sistema Telebrás, mas uma parte, mantendo o controle nas mãos do governo. Nas ferrovias, as concessionárias fazem o que querem. E os valores obtidos foram muito baixos.

Deputado: população prefere investimento do Estado

Argumenta-se ainda que o partido nunca foi contrário à presença de capital privado em áreas públicas. O vice-presidente do PT, Walter Pomar, ressalta que as concessões faziam parte do programa de governo.

- Já se previa essa possibilidade, e nunca houve na direção nacional uma deliberação formal sobre o tema. Mas, em geral, há uma posição crítica no partido - diz Pomar, contrário às concessões de anteontem.

As críticas às concessões do governo passado se fundamentam na pouca preocupação em reduzir ao máximo os pedágios e na falta de obrigações mais firmes das concessionárias.

Num partido cheio de correntes como o PT, há um contingente que continua com urticária de capital privado.

- O governo não deveria ter feito isso. A população compreende melhor o investimento do Estado nas rodovias do que ser obrigada a pagar pedágio - diz o deputado Vignatti (SC).

Doutor Rosinha (PR) diz que o presidente Lula "tem posição assumida contra as privatizações, mas não tem força política para enfrentar as pressões".