Título: Diante da forte pressão, até tropa de choque já abandonava Renan
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/10/2007, O País, p. 4

Exposição causou prejuízos e revelações de processos e irregularidades fiscais.

BRASÍLIA. O último golpe sofrido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), antes de ser forçado a se afastar do cargo, foi a deserção da chamada tropa de choque. Durante a semana, tanto os senadores que faziam a defesa pública de Renan como os que atuavam nos bastidores desistiram da missão. Enfrentando um forte desgaste junto à opinião pública, até mesmo os mais enfáticos integrantes da chamada tropa renanzista começaram a dar demonstrações de fraqueza e abandono de seus respectivos postos na trincheira pela manutenção do senador na presidência.

Até os mais vistosos - os senadores Wellington Salgado (PMDB-MG), Almeida Lima (PMDB-SE) e Gilvan Borges (PMDB-AP) - decidiram silenciar. Os três passaram a ser chamados no Senado, respectivamente, pelos apelidos de Cabelo, Microfone e Chinelo. Salgado ganhou o apelido por ter cabelos longos; Almeida Lima, por gostar de fazer discursos a todo momento; e Borges, por ter o hábito de usar chinelo de couro.

"Todo mundo sumiu. Renan ficou só", afirma Borges

O recuo não foi por acaso. A notória visibilidade desses senadores provocou prejuízos pessoais para eles. Recentemente, em tom de desabafo, eles disseram a Renan que suas vidas passaram a ser acompanhadas mais de perto pela mídia. Isso acabou revelando irregularidades fiscais e processos na Justiça de alguns deles. Muitos não agüentaram a exposição.

- Todo mundo sumiu. Renan ficou só. O Wellington foi fazer uma massagem capilar. O Microfone está em retiro espiritual. Não sobrou ninguém. O grande problema é que a defesa de Renan tem efeito contrário para nós. É desgastante. É muito difícil ir contra a opinião pública. Existe uma onda na sociedade, e fica impossível remar contra a maré - desabafou Borges, explicando o motivo de ter sua deserção.

Salgado chegou a anunciar que deixará a Casa até o fim do ano, para se dedicar aos negócios da família, que administra universidades particulares. Salgado teve suas pretensões políticas questionadas pela mãe, de 85 anos, e por seus irmãos, após O GLOBO ter publicado que ele responde a inquérito criminal no Supremo Tribunal Federal (STF) pela suspeita de ter sonegado R$4,1 milhões de Imposto de Renda, no período em que comandou a Associação Salgado de Oliveira de Educação e Saúde (Asoec). Procurado ontem, Salgado evitou fazer qualquer comentário.

- Não estou falando nada. Entenda: estou em silêncio. Não falo mais com jornalista - disse Salgado.

A avaliação reservada é que Renan tinha virado um peso difícil de ser carregado. A maior prova disso foi a decisão do líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), que também era da tropa de choque de Renan: Raupp ontem anunciou a reintegração, na Comissão de Constituição e Justiça, dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS), sem consultar ou avisar a Renan.

Outro que integrou a tropa de choque, o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), assustou-se com a visibilidade que ganhou quando foi escalado para comandar os processos contra Renan. Ele é presidente da Federação Tocantinense de Futebol e integra a chamada bancada da bola do Congresso. Em 2002, quando se elegeu, recebeu doação de R$50 mil da CBF.

Quintanilha responde a inquérito desde 2005 no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime contra a ordem tributária. Ele é acusado de ter desviado dinheiro de emendas parlamentares por meio da Construtora e Incorporadora Rochedo, pertencente a seu irmão, Cleomar Quintanilha. Preocupado com a divulgação das notícias, chegou a pedir para abandonar o comando do Conselho. Mas ficou, a pedido de Renan.

- Ele (Renan) passou a ser um problema. E as pessoas queriam ficar livre do problema - resumiu outro integrante da tropa de choque.

Sarney, Roseana e Jucá: conselhos para a renúncia

Os conselheiros de Renan que durante a crise atuavam nos bastidores demonstraram esta semana que não tinham mais resistências para enfrentar a pressão pública. Desde que Renan foi absolvido do primeiro processo de cassação, um grupo de senadores tentava convencê-lo a renunciar. Fizeram parte desse grupo os senadores José Sarney (PMDB-AP), Romero Jucá (PMDB-RR) e Roseana Sarney (PMDB-MA). Nas últimas horas, todos já explicitavam o desconforto e acenavam que a situação chegara ao limite.

- Esse é um processo que cansou todo mundo e acabou extenuando as pessoas que estavam em volta de Renan - disse o líder do governo, Romero Jucá.