Título: Por CPMF, Planalto pressionou pelo afastamento
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/10/2007, O País, p. 5

Lula aprovou operação política para convencer Renan, após ser informado da gravidade da situação no Senado.

BRASÍLIA. A decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de se licenciar do cargo levou alívio ao Planalto. A avaliação do núcleo de coordenação política do governo é que a licença vai viabilizar a votação da CPMF até o fim do ano. Nos últimos dois dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva monitorou de perto as negociações para que Renan decidisse se afastar. Ontem, por volta da hora do almoço, Lula recebeu um telefonema do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, comunicando a solução para o impasse: Renan deveria anunciar a decisão até o fim do dia.

A confirmação chegou por volta de 17h30m, quando o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), telefonou para Lula e avisou que Renan faria um pronunciamento na TV Senado. Lula agradeceu o empenho de Jucá, que no dia anterior recebera a missão de ser o interlocutor do Planalto para encontrar uma saída para a crise.

Jucá também ligou para Mares Guia no fim da tarde, antes de embarcar para a Colômbia, para visitar uma filha e assistir ao jogo da seleção brasileira.

- Renan sempre foi um companheiro correto, e essa é uma decisão madura. Ele teve o senso de responsabilidade, inclusive num momento em que será preciso votar a CPMF. Sendo uma decisão pessoal, foi algo bom para ele, bom para o Senado, mas, principalmente, bom para o Brasil. Ele também se preserva e dessa forma terá condições de se defender - disse Mares Guia.

A articulação começou na noite de terça-feira, após a sessão constrangedora em que Renan foi obrigado a abandonar a cadeira de presidente, pressionado por senadores para se afastar. Preocupado, Lula chamou Jucá no dia seguinte. Ouviu dele um relato alarmante. Segundo Jucá, seria impossível aprovar a CPMF com a permanência de Renan na presidência. Lula deu sinal verde para Jucá articular uma solução e autorizou uma negociação com a oposição.

O primeiro sinal de que a licença deveria sair foi dado ao Planalto no final da noite da quarta-feira. Ao deixar a residência oficial da presidência do Senado, depois de longa reunião, Jucá disse a Mares Guia que, pela primeira vez, Renan admitira a possibilidade de tirar uma licença. O líder foi além e contou ao ministro que, também pela primeira vez, Renan concluiu que perdera as condições políticas para ficar no cargo e admitiu que poderia ser cassado, se insistisse.

Lula pediu ao senador José Sarney (PMDB-AP) que ajudasse nas negociações. O núcleo político do governo estava preocupado com a interferência do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que vinha influenciando Renan a ficar no cargo em qualquer circunstância. O governador Teotônio Vilela (PSDB-AL) também foi chamado. Anteontem à noite, os dois políticos e Jucá finalmente convenceram Renan a se afastar.