Título: Analista: saída é tardia, e manobra pode prejudicar governo e senado
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 12/10/2007, O País, p. 8

Configurada a barganha, o governo vai ter que se explicar no futuro.

SÃO PAULO. A decisão do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) de deixar a presidência do Senado por 45 dias foi considerada tardia e vista com ressalvas por empresários e analistas políticos, já que a atitude pode ser uma manobra do governo para aprovar a prorrogação da cobrança da CPMF. Especialistas acreditam que, se a licença for apenas um pano de fundo para uma possível barganha do Executivo federal junto aos seus aliados, a saída de Renan arranharia ainda mais a imagem do governo e do Senado, já desgastadas por conta do arrastado processo contra o peemedebista.

¿ Se isso (a licença) se configurar como uma barganha, o governo vai ter que se explicar no futuro ¿ afirmou o presidente da ONG Transparência Brasil, Claudio Abramo: ¿ É importante que a licença signifique um real afastamento do Renan da Mesa Diretora, se não de nada vai adiantar.

Diretor da Fiesp: sem surpresa, como na absolvição

O professor de Ética e Filosofia da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, avaliou como perigosa a possível negociação do governo com o senador.

¿ Cada variável possível nesse caso da CPMF esconde uma armadilha perigosa. Se ele (Renan) negociou com o governo em troca de absolvição, isso vai ficar ruim para o governo e para o Senado. Se, lá na frente, for considerado culpado, o PMDB que está com o Renan tomará atitude drástica contra o governo. É uma armadilha perigosa ¿ disse.

Para o jurista Dalmo Dallari, a saída de Renan é um dado positivo em meio à carga negativa que invadiu o Senado.

¿ A presença do Renan era tão ruim para o Senado que uma possível negociação em relação à CPMF se transformou em plano secundário. Todo o Senado estava comprometido ¿ disse Dallari.

O diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mário Bernardini, disse, no entanto, que não se surpreendeu quando o Congresso manteve Renan no cargo; nem agora, quando o senador decidiu se licenciar, provavelmente depois de negociar com o governo para se aprovar a CPMF neste período de 45 dias afastamento.

¿ É simples: enquanto o Renan estava ajudando, o governo trabalhou pela sua absolvição. Agora que ele está atrapalhando, pede para se licenciar. Não há surpresa ¿ disse Bernardini.