Título: ONU repreende Mianmar por repressão
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Fonte: O Globo, 12/10/2007, O Mundo, p. 32

China se junta a membros do Conselho de Segurança para deplorar reação a manifestantes. Monges relatam horror na prisão.

NOVA YORK. A China se juntou ontem, pela primeira vez, a potências ocidentais para deplorar a repressão da junta militar birmanesa a manifestantes pró-democracia e pedir o diálogo. O duro pronunciamento não chega a condenar Mianmar, mas pede que o regime liberte todos os presos políticos e inicie um diálogo genuíno com opositores, incluindo a líder Aung San Suu Kyi e grupos étnicos.

O pronunciamento não tem caráter vinculante, mas como foi aprovado pelos 15 membros do conselho, deixou o regime isolado. O fato marca também uma mudança de posição da China ¿ principal aliada de Mianmar ¿ que já usou seu poder de veto para impedir críticas ao país. O texto pede que a junta considere as recomendações do enviado especial da ONU, Ibrahim Gambari, que neste fim de semana retorna à Ásia.

¿O Conselho de Segurança deplora firmemente o uso de violência contra manifestações pacíficas (...) e enfatiza a importância da libertação de todos os presos políticos¿, diz o comunicado lido pelo presidente do órgão, Leslie Christian, após China e países ocidentais discutirem o texto por seis dias.

¿ É significativo porque deixa claro que o governo da Birmânia está isolado ¿ disse o embaixador britânico na ONU, John Sawers, usando o antigo nome de Mianmar.

Celas superlotadas, sem acesso a banheiro

EUA, Reino Unido e França disseram que a junta deve agir logo, ou pressionarão o conselho a retornar ao assunto. O embaixador chinês, Liu Zhenmin, limitou-se a dizer que espera que o comunicado ajude a visita de Gambari e que o próprio país deve resolver a questão.

Apenas agora o verdadeiro horror da repressão às manifestações lideradas pelos monges começa a emergir. Há relatos de monges confinados por dias em celas com os próprios excrementos e pessoas espancadas apenas por terem assistido às manifestações. Eles revelam uma campanha sistemática de repressão física e psicológica. O governo admite dez mortes, mas dissidentes dizem ser mais.

¿ Havia uns 400 de nós numa única sala. Sem banheiro, sem água para banho, camas ou cobertores ¿ contou um monge de 24 anos, preso na incursão a um mosteiro e que ficou detido por dez dias no Instituto Tecnológico do Governo, no norte de Yangon. ¿ A sala era pequena demais e dormíamos em turnos. Às 20h, recebíamos uma pequena tigela de arroz e um copo de água. Mas depois de alguns dias, muitos não conseguiam comer. O cheiro era muito ruim.

Entre os presos, estavam noviços de até 7 anos. Os monges tiveram que trocar os hábitos por sarongues. E apanhavam quando se referiam a si mesmos como religiosos.

¿ Alguns foram espancados, deixados com as feridas abertas ¿ contou o monge.

A maior parte foi libertada sem acusações. Mas acredita-se que os líderes das manifestações receberão punições piores, julgamentos secretos e longas sentenças. Pelo menos um líder oposicionista, do partido de Suu Kyi, foi torturado até a morte.

Com o Independent