Título: Disputa pela sucessão no Senado ameaça rachar base e acirrar crise
Autor: Vasconcelos, Adriana e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 13/10/2007, O País, p. 4

Discussão já é feita nos bastidores e pode causar problemas ao governo.

BRASÍLIA. Diante da constatação de líderes partidários, de que só o afastamento definitivo do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado resolverá a crise na instituição, a sucessão para o cargo já é discutida nos bastidores. Isso pode se tornar um problema adicional para o governo, que gostaria de centrar seus esforços na pacificação da base governista para garantir a aprovação da prorrogação da cobrança da CPMF. O PMDB, que tem a maior bancada na Casa, não conta com um sucessor natural para Renan, o que deve contribuir para ampliar o racha na base.

- Discutir um assunto como esse, que não agrega, só contribui para alimentar ainda mais crise. A vaga é do PMDB, mas ele não tem um candidato natural e, sem esse candidato natural, a base pode rachar - admitiu o líder do PSB, senador Renato Casagrande (ES).

Prioridade é retomar votações, diz líder do governo

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), não quer nem ouvir falar na sucessão de Renan. Na sua opinião, a prioridade da Casa é garantir a retomada imediata das votações e assegurar o direito de defesa para Renan nos processos que tramitam no Conselho de Ética, o que, a seu ver, permitiria a volta da serenidade ao Senado.

- Não podemos iniciar essa discussão agora. A sucessão não está aberta. Primeiro, vamos fazer as coisas acontecerem - disse Jucá.

O fato, no entanto, é que só no PMDB já despontam pelo menos quatro nomes para a sucessão de Renan. O do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) seria o mais forte, mas o PSDB já anunciou que não aceitará um candidato muito ligado a Renan ou vinculado diretamente ao Palácio do Planalto. Uma alternativa para a oposição, diante de um racha na base governista, seria lançar a candidatura de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), peemedebista histórico, que tem votado contra o governo Lula.

Correndo por fora, surgem mais dois peemedebistas: Gerson Camata (ES) e Garibaldi Alves (RN). A postura de independência de ambos pode contribuir para que um deles seja o candidato de consenso. O problema é que o PT também está de olho na vaga e tentará transformar a interinidade do vice-presidente, senador Tião Viana (PT-AC), em permanente.

A discussão sobre a sucessão de Renan é reforçada especialmente pelos líderes oposicionistas. Eles afirmam que não aceitarão a volta do senador alagoano ao comando do Senado.

- Renan perdeu as condições de presidir o Senado. Com a licença, recuperamos o clima de paz, mas não a credibilidade do Senado. O PT deverá negociar com ele a renúncia em troca da não-cassação - disse o senador José Agripino (DEM-RN).

O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), também já avisou que a licença de Renan não tem volta. Em nota divulgada ontem, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) reforça a tese: "O senador Renan Calheiros perdeu as condições de voltar a presidir o Senado e o futuro de seu mandato depende da consistência das acusações e da capacidade de defesa que ele venha a apresentar".