Título: Reforço à luta ambiental
Autor:
Fonte: O Globo, 13/10/2007, O Mundo, p. 26

Al Gore e cientistas da ONU recebem prêmio por esforços contra aquecimento global.

OSLO, SÃO FRANCISCO e NOVA DÉLHI

Aluta contra o aquecimento global provocado pela ação humana deu ontem ao ex-vice-presidente dos EUA Al Gore e ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) o Nobel da Paz. O prêmio, anunciado em Oslo, busca aumentar a consciência sobre o tema e pressionar governos a realizarem ações imediatas para conter o fenômeno. Para isso, decidiu premiar tanto o grupo de cientistas - entre eles nove brasileiros - como o político, cujas ações dos últimos anos foram consideradas pela Fundação Nobel fundamentais para que o tema conquistasse popularidade.

- As mudanças climáticas importantes podem alterar e ameaçar as condições de vida de grande parte da Humanidade. Podem desencadear migrações em massa e criar uma feroz competição pelos recursos da terra - disse o presidente da comissão do Nobel, Ole Mjoes. - Podem representar um alto risco de conflitos e de guerras entre Estados e dentro deles.

A escolha de uma nova figura do Partido Democrata americano (o ex-presidente Jimmy Carter levou o prêmio em 2002) e de um tema que é rechaçado pelo presidente dos EUA, George W. Bush, deixou claro a postura política do Nobel deste ano.

- É preciso agir agora, antes que a mudança no clima saia do controle do homem. Quero que este prêmio faça com que todos, cada ser humano, se perguntem o que devem fazer.

O ex-coordenador de emergências da ONU, Jan Egeland, elogiou o tema escolhido para o prêmio.

- As guerras climáticas já estão ocorrendo, especialmente no Sahel - disse ele, referindo-se à região africana ao sul do Saara. - Nômades enfrentam camponeses porque existem cada vez menos terras disponíveis.

Ano passado, a ONU incluiu o fenômeno entre as "principais ameaças para a paz e a segurança". A guerra em Darfur, no Sudão, é um dos exemplos mais citados deste tipo de conflito.

Prêmio para ciência e publicidade

Gore, autor do documentário ganhador do Oscar "Uma verdade inconveniente", fez um alerta sobre a "emergência planetária".

- É o mais perigoso desafio que já enfrentamos, mas também a maior oportunidade que já tivemos de realizar mudanças. Volto ao trabalho agora. Este é apenas o começo - afirmou ele, que anunciou a doação de sua metade dos US$1,5 milhão do prêmio à Aliança para Proteção do Clima.

O Nobel aumentou a pressão para que Gore entre na corrida pela Presidência dos EUA em 2008. A Casa Branca reagiu friamente. O porta-voz Tony Fratto disse que Bush não planejava telefonar para cumprimentá-lo. Fratto afirmou que Bush estava feliz por Gore pelo "importante reconhecimento".

A notícia foi recebida com surpresa pelo presidente do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, e com pompa e circunstância por Gore. Em Nova Délhi, um sorridente Pachauri recebia abraços de cientistas, enquanto atendia dezenas de jornalistas e telefonemas.

- Não posso acreditar. Estou chocado - afirmou Pachauri. - Este é um reconhecimento (do trabalho) de todos os cientistas que contribuíram com o trabalho do IPCC e dos países que os auxiliaram neste trabalho.

O historiador da ciência Spencer Weart elogiou o prêmio, e ressaltou que o Nobel decidiu premiar a fundamentação científica por trás da luta contra o aquecimento global e a pessoa que mais contribuiu para que o tema ganhasse notoriedade:

- O Nobel está homenageando a ciência e a publicidade.

Muitos líderes internacionais elogiaram a premiação. Mas houve algumas críticas. O presidente da República Tcheca, Vaclav Klaus, que considera as mudanças climáticas um mito, disse que a relação entre as atividades de Gore e a paz mundial "não é clara nem manifesta". Já seguidores do presidente da Bolívia, Evo Morales, criticaram a decisão por esperarem que ele ganhasse o prêmio.