Título: Doce vingança para Gore, tapa em Bush
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 13/10/2007, O Mundo, p. 27

WASHINGTON. Chamem isso de a vingança de Al Gore. O Prêmio Nobel da Paz que ele ganhou ontem serviu como uma bofetada no presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e em sua política ambiental amplamente criticada, e será por muito tempo saboreado pelo homem que amargou a derrota nas eleições presidenciais de 2000.

Esse prêmio também pode ser interpretado como parte de um movimento internacional, não somente contra sete anos de retrocessos promovidos por Bush na questão ambiental, mas também contra sua política na guerra do Iraque e sua notória arrogância em assuntos externos.

Trata-se de um duplo recado para o presidente republicano, e o segundo reconhecimento às criticas feitas pelo Partido Democrata ao atual governo. O primeiro reconhecimento foi em 2002, quando o prêmio foi dado ao ex-presidente dos EUA Jimmy Carter. Na época, membros do comitê que escolheram Carter disseram que aquele era um claro sinal de reprovação à preparação para a Guerra no Iraque feita pelo governo republicano.

Para Gore ¿ que foi vencedor no voto popular nas eleições presidenciais, mas perdeu para Bush numa crucial recontagem de votos na Flórida ¿ o Prêmio Nobel da Paz é um grande reconhecimento. Após as eleições de 2000, ele se refez como um defensor incansável do meio ambiente, e ganhou um Oscar em 2006 com o documentário ¿Uma verdade inconveniente¿.

Enquanto Gore só ganhou prestígio internacional desde que perdeu as eleições, Bush tem visto sua credibilidade cada vez mais abalada dentro e fora do país por causa do Iraque e de outras políticas. Luta para manter suas políticas e seu status em meio a uma crescente oposição proporcionada pela maioria do Partido Democrata no Congresso. Seu círculo mais íntimo está em franco processo de erosão, com renúncias freqüentes de assessores importantes.

E a aprovação do presidente em pesquisas de opinião enfrenta quedas violentas, caindo de 90% na época do 11 de Setembro para cerca de 30% atualmente.

O reconhecimento internacional de Gore fez dele uma das maiores apostas para o Prêmio Nobel da Paz deste ano. Já a indicação de Bush, segundo as agências de apostas, era tão improvável que pagava mais de 100 vezes o valor apostado.

MATT SPETALNICK é jornalista da agência de notícias Reuters