Título: PAC atrai legião de vereadores para base aliada
Autor: Gripp, Alan e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 13/10/2007, O País, p. 14

A convite de ministros e governadores, pelo menos três mil parlamentares trocaram de partido nas últimas semanas.

BRASÍLIA. O troca-troca de partidos no Congresso é café pequeno comparado à gigantesca e silenciosa infidelidade praticada por vereadores país afora. A União dos Vereadores do Brasil (UVB) calcula que pelo menos três mil parlamentares trocaram de legenda nas últimas semanas, em romaria comandada do alto da pirâmide por ministros e governadores da base aliada. Aliciadores e aliciados ouvidos pelo GLOBO durante a última semana explicaram as traições em massa fazendo o mesmo raciocínio: o convite para estar do lado da poderosa máquina administrativa, com a expectativa de colher dividendos das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foi uma proposta tentadora demais para quem já está pensando nas eleições municipais de 2008.

Estados como Bahia, Paraná, Ceará, Amazonas e Goiás, cujos governos estão alinhados com o Palácio do Planalto, responderam por mais da metade das trocas de partido nas câmaras municipais. Na Bahia, ocorreram pelo menos 300 mudanças, a maioria patrocinada pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, candidato a herdeiro do espólio de Antonio Carlos Magalhães e que comanda a bilionária obra de transposição do Rio São Francisco. Só não foi atrás de Geddel quem já tinha acordo fechado com o governador Jaques Wagner (PT), o que também significa estar de mãos dadas com o governo federal.

¿ Quem está com ele (Geddel) está com poder diferenciado. (O ministério) Tem muita obra. Ele é hoje um cara muito importante. O pessoal está vendo que o PMDB na Bahia é o futuro ¿ diz o presidente da União dos Vereadores do Brasil (UVB), Joabs Sousa Ribeiro, vereador de Ilhéus pelo PP: ¿ Só na semana passada na Bahia, mais de cem (vereadores) trocaram de partido. Foi todo mundo para o PMDB de Geddel ¿ diz.

¿É difícil segurar a debandada¿

Herdeiro legítimo do carlismo, o deputado ACM Neto (DEM) assiste impotente à transferência do patrimônio político do avô para o peemedebista.

¿ Geddel está atropelando todo mundo. Ele está oferecendo muita coisa: tem o amparo do governo federal, espaço importante no governo do estado e o comando da Prefeitura de Salvador. É muito difícil segurar a debandada. Só podemos oferecer credibilidade e expectativa de poder em 2010 ¿ afirma.

Segundo ele, Geddel está atropelando até o PT:

¿ Jaques Wagner preparou o bolo para a festa, e Geddel assopra a velinha.

Em viagem ao exterior, Geddel não foi localizado pelo GLOBO para falar sobre o troca-troca. Jaques Wagner reconhece que a migração maior na Bahia tem sido para o PMDB:

¿ O motivo dessa grande migração é o de sempre: o prefeito é aliado do governador, e o vereador segue os prefeitos. Quando há uma mudança, os prefeitos migram para os partidos aliados. Mas, para o PT, que é um partido que tem uma estrutura mais rígida, não veio quase nada. Para o PMDB é mais fácil.

No Paraná, estado que vive da agricultura, com 390 mil propriedades rurais, o troca-troca foi regido pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e o governador Roberto Requião, ambos do PMDB. São eles os pais das mais de 500 trocas de time que esvaziaram o DEM e incharam o PMDB e o PSC. Quem pôs as mãos na massa foram os prefeitos, encarregados de cooptar os vereadores.

¿ É um jogo de interesses. O vereador tem que buscar uma boa situação para se reeleger e escuta a proposta tentadora dos prefeitos. Geralmente, o prefeito chega e diz: ¿Vem conosco que você terá os privilégios da máquina¿¿ revela Bento Batista da Silva, presidente da União dos Vereadores do Paraná (UVP).

Outro personagem importante na infidelidade no Paraná é o deputado Ratinho Júnior (PSC), filho do apresentador de TV Ratinho. Campeão de votos ano passado, Ratinho é nome presente nas conversas sobre a sucessão na Prefeitura de Curitiba e o governo do estado em 2010.

No Ceará, segundo o presidente da entidade que reúne os vereadores locais, Francisco Deusinho, mais de 300 dos 1.734 vereadores correram atrás dos irmãos Cid, governador do estado, e Ciro Gomes, deputado e pré-candidato à Presidência da República, ambos do PSB. Ciro tem ainda o controle da Secretaria de Portos, ocupada pelo também cearense Pedro Brito.

¿ Os vereadores vão em busca de um novo mandato. Os partidos só funcionam mesmo na época da eleição. Depois todo mundo corre para o partido do governador novo que assume, como Cid Gomes. Isso ninguém pode esconder. O prefeito vai ao governador e o vereador acompanha ¿ afirma Deusinho.

Em Goiás, o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), assinou mais de 200 filiações e cooptou alguns dos vereadores de maior peso na cidade. Entre eles Paulo Borges, que trocou o PSB pelo PMDB. Borges rejeita o título de traidor e diz que saiu por ideologia.