Título: BR-101: rodovia melhor, investimento maior
Autor: Rodrigues, Luciana e Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 13/10/2007, Economia, p. 36

Concessão à iniciativa privada vai reduzir custo do transporte para empresas, que planejam expansão em Macaé e Campos.

MACAÉ, CAMPOS e RIO. Espinha dorsal da indústria petrolífera do Estado do Rio, a BR-101 traz agora esperança de maior diversificação econômica para uma região que, hoje, ainda é muito dependente do petróleo. É grande a expectativa nos municípios do Norte e Noroeste do estado, e também das baixadas litorâneas, com as obras de recuperação e duplicação na estrada, que será transferida à iniciativa privada ¿ venceram os espanhóis da OHL ¿ depois do leilão da última terça-feira.

Nesse trecho privatizado, a estrada corta dez municípios que estão entre os maiores receptores de royalties do estado. E liga Macaé e Campos ¿ cidades que ficam às margens da bacia responsável por 80% da produção nacional de petróleo ¿ a Itaboraí, onde a Petrobras criará um dos maiores complexos petroquímicos do país.

Empresários, prefeituras e especialistas acreditam que a melhoria da estrada poderá facilitar a implantação de alguns grandes investimentos já programados para a região e, ainda, atrair novos projetos. E as empresas hoje instaladas nas proximidades da rodovia comemoram a perspectiva de redução de custo e maior segurança no frete.

¿ Não há nada melhor para atrair investimento do que infra-estrutura. Taxa de câmbio e juros são ¿precificáveis¿. O que faz diferença é a infra-estrutura, que é perene. Subsídios e benefícios fiscais são temporários, podem acabar numa canetada ¿ afirma Marcelo Bueno, presidente na América Latina da Schulz, empresa alemã de conexões e tubos em aços especiais que tem fábricas na Europa, na Ásia e atua em Campos.

A Schulz fornece para setores de petróleo, energia nuclear e petroquímica.

Despesas com frete devem cair 10%, calcula executivo

Toda a produção da Schulz sai de Campos pela BR-101, em direção ao Porto do Rio (o mercado externo responde por 80% da demanda) ou ao centro de distribuição de São Gonçalo, também às margens da rodovia. Bueno diz que, só com a duplicação do trecho da BR-101 do Rio a Macaé (que deve ser a primeira etapa da obra), haverá queda de 10% nas despesas com frete, que tem peso de 2,5% no custo da empresa.

¿ Para quem exporta e enfrenta concorrentes como os chineses, qualquer redução de custo é fundamental ¿ afirma.

A Schulz contou com financiamento do Fundo de Desenvolvimento Econômico de Campos (Fundecam, que aplica recursos dos royalties) e está concluindo sua segunda fábrica, um investimento de R$40 milhões. A empresa já tem planos de fazer uma terceira unidade e, segundo Bueno, a perspectiva de que a BR-101 seria aprimorada pesou na decisão de ampliar a presença em Campos.

Devido à importância da logística de transporte para a atração de investimentos, o secretário de Indústria, Comércio e Energia de Macaé, Guilherme Jordan, acredita que a duplicação da BR-101 será um marco na diversificação econômica do estado.

¿ Hoje Macaé tem cerca de 400 empresas que prestam serviço no setor de petróleo. A melhoria da estrada é muito mais do que o aumento da segurança, que é fundamental. É também uma nova era no desenvolvimento local.

Nos 93 quilômetros que separam Rio Bonito de Macaé, as condições do asfalto não chegam a ser ruins, e a estrada tem sinalização adequada. Esse trecho deve ser o primeiro a ser duplicado. O grande problema da BR-101 é a pista simples (uma faixa para cada sentido) e o intenso tráfego de caminhões, o que leva motoristas imprudentes a forçar ultrapassagens e faz da rodovia uma das mais perigosas do estado. A duplicação total da rodovia tem 13 anos para ser concluída.

Produtos poderão chegar mais baratos ao carioca

Além de atrair investimentos, a melhoria da estrada poderá trazer alívio para o bolso do consumidor fluminense.

¿ Os impactos na economia fluminense serão visíveis ¿ diz o presidente do Conselho Empresarial de Infra-estrutura do Sistema Firjan, Luiz Lagoeiro Barbará. ¿ Muitos produtos que chegam ao Rio terão um custo menor de transporte. Com estradas em condições melhores de tráfego, haverá barateamento das mercadorias que chegam de outros estados, como Minas Gerais. Somente o frete poderá ter redução de 20%.

O secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, também prevê redução nos custos com a rodovia privatizada. Segundo ele, um estudo da ANTT mostra que nas rodovias com pedágio o custo médio por quilômetro rodado é 30% menor, graças ao melhor estado de conservação da estrada.

¿ O pedágio, sobretudo da forma como foi feito o edital, é irrelevante diante da situação em que ficarão as estradas ¿ afirma o gerente de Infra-estrutura da prefeitura de Campos, Sérgio Uébe Mansur.

Ele acrescenta que, no trecho mais próximo a Campos, 30 quilômetros do traçado ainda mantêm a geometria original, da década de 60, o que torna o tráfego de passageiros e de cargas altamente perigoso.