Título: PC decide futuro da China em reunião-chave
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 13/10/2007, O Mundo, p. 41

Congresso que começa amanhã escolherá sucessor de Hu Jintao e anunciará quatro novos membros do Politburo.

PEQUIM. O maior partido político do mundo, o Partido Comunista da China (PCC), com 73 milhões de filiados, começa amanhã o seu 17º Congresso ainda dividido sobre qual o melhor nome a ser escolhido para suceder o presidente Hu Jintao no comando do país quando seu período de dez anos no poder se encerrar, em 2012, data do próximo congresso. Apesar da tentativa de profissionalização do próprio PCC, de um afastamento moderado entre o PCC e o governo (ainda entidades únicas na China) e do reforço de outras instituições de poder no país, como o Congresso Nacional do Povo (Legislativo) e a Suprema Corte do Povo (Judiciário), o fato é que é o PCC que manda na China.

Após violenta campanha de repressão contra possíveis manifestações dissidentes na capital durante os últimos 15 dias, surdo aos apelos por direitos humanos feitos por ONGs de todo o mundo, o PCC vai eleger novos membros para o Comitê Central do partido, entidade de mais de 350 pessoas que reúne a elite comunista chinesa. Mas todas as atenções estarão voltadas para os prováveis nomes que serão guindados ao poderoso Politburo, o Escritório Político do Comitê Central, a mais alta hierarquia do poder na China.

Divergências sobre reformas e corrupção

Esta escolha, secreta e negociada até o fim do congresso, marca uma briga interna entre, de um lado, o presidente Hu Jintao e seus colaboradores (egressos das fileiras da Liga Jovem do PCC) e o grupo ligado ao ex-presidente Jiang Zemin. Dentro do Comitê Central, há divergências sobre praticamente tudo: da velocidade das reformas capitalistas até a maneira correta de tratar gente envolvida em corrupção.

Ontem, o partido afirmou que dois documentos ¿ uma emenda à constituição do PCC e um relatório sobre a crescente diferença de renda na China ¿ foram aprovados para debate durante o congresso. E sem revelar nomes, afirmou que foram escolhidos quatro novos membros para o Politburo.

¿ A questão sucessória é importante, mas outros temas, como a corrupção nos quadros, percebida como crescente pelos chineses, ou a transparência das decisões do partido também são itens importantes neste congresso ¿ afirma Ren Jianming, professor do Centro de Pesquisas sobre Governança e Combate à Corrupção da prestigiada Universidade de Tsinghua.

Dois nomes ligados a lideranças provinciais estão cotados para subir ao Politburo: Li Keqiang, 52 anos, secretário do partido na província de Liaoning e ligado a Hu Jintao. E Xi Jinping, 54 anos, estrela em ascensão no PCC, atual secretário do partido em Xangai com fortes ligações com Jiang Zemin (Xi substituiu Chen Liangyu, expulso do partido em julho deste ano acusado de corrupção). Além desses, dois outros membros do Secretariado do partido são citados como prováveis escolhidos: He Guoqiang e Zhou Yongkang.

Classe média ganha importância política

Apesar de Hu Jintao ter criado um perfil decisório dentro do governo chinês que privilegia mais as escolhas em grupo do que o poder individual do passado, a tarefa de definir um sucessor a partir de 2012 não deve ser fácil. Por hora, Xi Jinping é citado como o nome mais forte, o que indicaria que Hu Jintao não conseguiu se impor como liderança mais influente do Politburo. Mas tudo pode mudar nas discussões do congresso.

Há duas semanas, a agência de notícias estatal Xinghua publicou uma longa matéria sobre a importância política cada vez maior do que o ex-presidente Jiang Zemin chamava de ¿novo estrato social¿: os 50 milhões de profissionais do colarinho branco da China, como advogados, gerentes de empresa e até microempresários, gente que compõe a nova e emergente classe média e alta da China, turbinada por um poder de compra maior.

São nomes em contraposição aos dos chamados ¿princeling¿, os filhos de grandes revolucionários comunistas que se beneficiam largamente do poder herdado e garantido pelo pai, como é o caso do próprio Xi Jinping e de outro importante integrante do governo sempre citado como alternativa na sucessão presidencial: o atual Ministro do Comércio, Bo Xilai.