Título: Em extinção
Autor: Tavares, Vitor
Fonte: O Globo, 15/10/2007, Opinião, p. 7

Das 2.600 livrarias brasileiras, 70% são de pequeno e meio portes, com um faturamento mensal entre R$35 mil e R$45 mil. Este é um dos dados que compõem o ¿Diagnóstico do Setor Livreiro no Brasil¿, em fase final de compilação, que a Associação Nacional de Livrarias (ANL) desenvolve. O ganho bruto destes estabelecimentos gira por volta de 25%, com um lucro ¿ tudo correndo sem problemas ¿ de 5%, ou seja, R$2.000,00, muito aquém do ideal. Infeliz-mente, percebemos que cada vez menos empresários buscam investir num negócio que exige muito trabalho, esforço pessoal e com um ganho real tão baixo.

Recente pesquisa do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reforça esta nossa percepção. O Instituto anunciou que, entre os anos de 1999 e 2006, o número de municípios que possuem livrarias no país caiu 15,5%. Em 2006, elas estavam presentes em apenas 30% dos 5.564 municípios, enquanto que em 1999 este percentual era de 35,5%.

O diagnóstico da ANL localizou cerca de 2.600 livrarias em todo o território nacional ¿ importante destacarmos que consideramos para este número as livrarias com uma média entre 10 e 15 mil livros em exposição. Deste total, 53% estão localizadas no Sudeste; 15% no Sul; 20% no Nordeste; apenas 5% no Norte; 4% no Centro-Oeste e 3% no Distrito Federal. Segundo estatísticas da ONU, o ideal para um município é uma livraria para cada 10 mil habitantes. No Brasil, um número perto do razoável seria de 4.900 livrarias. Estamos muito longe desta realidade: num estado como Rondônia, por exemplo, com 657.302 mil habitantes, temos apenas quatro livrarias; em São Paulo, detectamos 676 para 40.000.056 habitantes.

Este quadro atual do segmento livreiro acaba criando uma `ciranda negativa¿. Menos livrarias, menos pontos de vendas para a exposição dos mais de dois mil títulos lançados mensalmente pelas editoras brasileiras, fazendo com que as editoras diminuam cada vez mais a tiragem dos livros ¿ com exceção de poucos best-sellers ¿ que hoje giram em torno de 1.500 a 2 mil exemplares na primeira edição. Automaticamente, o preço do livro, em escala, acaba acima do desejado, diminuindo o número de leitores. Para o segmento como um todo, que emprega por volta de 35 mil profissionais livreiros diretos, o comprometimento do Estado em leis que regulamentem o setor, sem dúvida, faz-se necessário para a sua manutenção, principalmente para as independentes.

Entre as diversas ações em debate durante a recente 17ª Convenção Nacional de Livrarias, discutiu-se a consolidação de leis que venham a proteger o segmento livreiro, principalmente as de pequeno e médio portes. Projetos de lei que regulamentem a política de vendas, onde todo o setor possa atuar e trabalhar em igualdade de condições nas práticas comerciais, evitando desta forma o prejuízo de toda a cadeia livreira.

Acreditamos que, no prazo médio de dez anos, com uma atitude mais direta por parte do governo federal, podemos aumentar o número per capita de leitura por brasileiro, que hoje é de menos de dois livros por leitor, por ano, para 3,5, invertendo o caminho negativo atual. Aumentando o número de livrarias elevaria automaticamente a tiragem da edição para 4 mil exemplares por lançamento, o que levaria à diminuição do preço final do livro. Ou corremos um sério risco, muito real, de extinção das pequenas e médias livrarias independentes. Já vimos este filme, não faz muito tempo, no segmento de discografia, quando desapareceram as melhores lojas de discos e de cds especializadas e independentes do país.

VITOR TAVARES é presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL).