Título: O papel das importações é relevante
Autor: Oliveira, Eliane e Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 15/10/2007, Economia, p. 19

BRASÍLIA. Chefe do Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, o economista Octavio de Barros está otimista. Reconhece que há uma defasagem entre os investimentos e sua maturação. Mas, em linha com o setor produtivo, diz que esse descasamento é normal, e não vê riscos de pressão inflacionária.

O senhor afirma que deverá haver alguma defasagem entre investimentos e a ampliação da capacidade produtiva. Por quê?

OCTAVIO DE BARROS: A defasagem deve-se exatamente ao tempo de maturação entre a realização do investimento e a ampliação da capacidade produtiva. Enquanto um investimento realizado hoje não maturar, temos a maturação de investimentos realizados no passado, o que sugere que a ampliação de capacidade produtiva de um país é um processo contínuo. E o papel das importações continua sendo relevante num contexto de demanda aquecida.

Em sua avaliação, qual será a duração desse ciclo?

BARROS: Não existe uma resposta simples, pois cada setor apresenta um tempo necessário para que os investimentos maturem. Além disso, o tempo de maturação está associado também ao tipo de investimento. Se for um investimento em máquinas e equipamentos, provavelmente o tempo de maturação será menor que o da construção de uma nova fábrica. Alguns exercícios sugerem que, para a economia como um todo e considerando-se a formação bruta de capital fixo (que inclui tanto a absorção de máquinas e equipamentos quanto os investimentos em construção civil), temos um tempo médio de quatro a seis trimestres.

O crescimento econômico atual, considerando esse ciclo, sustenta-se?

BARROS: Acreditamos que sim, pois há vários fatores de estímulo aos investimentos que serão mantidos ao longo dos próximos trimestres, ainda que haja uma mudança no ritmo de crescimento da formação bruta de capital fixo. Entre esses fatores, incluímos a maior confiança dos empresários em relação à continuidade da demanda forte, a elevação recente nos níveis de utilização da capacidade instalada, o aumento do crédito privado e oficial (por meio do BNDES) para investimentos, a continuidade da trajetória de queda dos juros, ainda que com maior gradualismo, e o câmbio apreciado, que favorece as importações de máquinas e equipamentos.

Existe risco de inflação de demanda?

BARROS: Em nosso cenário principal, acreditamos que a inflação ficará abaixo da meta de 4,5% determinada para os dois próximos anos. A demanda, de fato, está bastante aquecida, mas acreditamos que o forte ciclo de investimentos que tem ocorrido no Brasil, e que deverá ser mantido, reduzirá os riscos. (Eliane Oliveira)