Título: Na África do Sul, Lula vai reforçar aliança na OMC
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 15/10/2007, Economia, p. 20

Fórum valoriza parceria com sul-africanos e indianos.

PRETÓRIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa hoje, por Burkina Faso, sua sétima viagem ao continente africano, que deverá ter como ponto alto a reunião de cúpula do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (Ibas). Na quarta-feira, Lula e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, vão se reunir em Pretória com o presidente sul-africano, Thabo Mbeki.

Porém, mais do que tratar dos sete acordos de cooperação econômica da agenda oficial, os três dirigentes vão aproveitar esta segunda cúpula do Ibas para reafirmar a disposição de se manterem alinhados nas negociações sobre a abertura do comércio global, a Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Brasil, Índia e África do Sul, junto com China e Rússia, encabeçam o G-20, grupo que reúne os emergentes nas negociações da OMC. E criaram o Ibas, no ano passado, para ressaltar que a integração Sul-Sul é uma alternativa concreta.

- Existe uma pressão do primeiro mundo para que o G-20 volte à mesa de negociações de Doha, e, embora esse assunto não esteja na pauta do encontro, o Ibas é um bom lugar para Brasil, Índia e África do Sul ressaltarem que continuam juntos - diz um diplomata, que não descarta a possibilidade de a cúpula em Pretória ser usada pelos três países para reivindicarem um assento no Conselho de Segurança da ONU.

Diferentemente do espírito da primeira cúpula do Ibas, realizada no Brasil em setembro de 2006, não se fala mais em metas para a ampliação do comércio entre os três países, hoje na casa de US$5 bilhões. J.J. Spies, diplomata sul-africano encarregado da organização da segunda cúpula, lembra que Brasil, Índia e África do Sul têm "uma receita de sucesso" em suas regiões.

- O potencial está aí, mas até este momento nós ainda não conseguimos avançar como gostaríamos - diz Spies.

No que diz respeito a Brasil e África do Sul, as relações comerciais são pequenas. A Marcopolo, montadora de carrocerias de ônibus, é uma das poucas empresas brasileiras no país. A Vale do Rio Doce abriu recentemente um escritório. E a Petrobras está em contatos com a Sasol, sul-africana que transforma carvão e gás em combustível líquido e responde por 25% do consumo no país. Questionado sobre essa baixa integração, o diplomata observa que o Ibas é um fórum de diálogo:

- Temos cinco acordos assinados, devemos firmar outros sete e queremos ir além disso.

Spies diz que seu país quer estabelecer relações com empresas brasileiras de transportes. O governo sul-africano controla a maior empresa aérea do país, a South Africa Airways, que passa por reestruturação.

- Temos interesse em fazer acordos de code-share (compartilhamento de assentos).

(*) O repórter viajou a convite do governo da África do Sul