Título: Governo reforça policiamento e censura
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 15/10/2007, O Mundo, p. 26

Serviço de inteligência tenta evitar protestos e ativistas denunciam repressão.

PEQUIM. O chefe do Partido Comunista da China (PCC) em Pequim, Liu Qi, é um homem nervoso esta semana. Disposto a manter uma aparência de estabilidade na capital durante o 17º Congresso Nacional do PCC, que começa hoje, o governo de Pequim dobrou o policiamento nas ruas, colocou seu serviço de inteligência para antecipar possíveis protestos, aumentou a fiscalização sobre a internet (que está bem mais lenta) e vem ameaçando (algumas vezes com uso da força) ativistas e dissidentes.

Yao Lifa, um conhecido ativista de direitos humanos que defende a liberdade de políticos se candidatarem às assembléias chinesas sem estarem vinculados ao PCC, está desaparecido desde o dia 1º de outubro, de acordo com seu filho, Yao Yao. Segundo ele, o pai foi sequestrado pelo governo, que teme manifestações às vésperas do congresso do partido. Por sua vez, o advogado especializado em defesa de direitos humanos Li Heping afirmou que foi espancado pela polícia na semana passada e avisado de que seria melhor deixar a cidade:

¿ Me levaram para um prédio nos subúrbios de Pequim, tiraram minha roupa e me espancaram, enquanto diziam que eu deveria sair da cidade.

Homem diz ter sido preso e torturado, acusado de subversão

Hu Jia, um dos maiores ativistas contra a descriminação de portadores do vírus da Aids, afirmou que foi seguido por 14 pessoas durante todo o fim de semana toda a vez que saía de casa. Já Yang Chunlin, um ativista que fez circular na internet uma carta rejeitando as Olimpíadas de Pequim como um protesto contra o confisco abusivo de terras de camponeses, diz ter sido preso e torturado em agosto, acusado de ¿tentativa de subversão do poder do Estado¿.

¿ Nossa meta maior é manter a estabilidade ¿ afirmou Liu Qi.

O governo de Pequim tem razões de sobra para se preocupar com o congresso. Afinal, os mais de dois mil delegados que representam os 73 milhões de chineses filiados ao PCC só se reúnem a cada cinco anos com o objetivo de escolher a nova geração de mandatários do país e os rumos políticos e econômicos da China. Os olhos do mundo estarão voltados para lá. (G.S.J.)