Título: Queda-de-brasço pelo poder
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 15/10/2007, O Mundo, p. 26

Presidente Hu Jintao tenta modificar pensamento do PC chinês no congresso do partido.

Cerca de 2.200 delegados do Partido Comunista da China (PCC) começam hoje o 17º Congresso Nacional da legenda celebrando uma nova geração da elite comunista chinesa mais jovem (70,4% com idade inferior a 55 anos, fatia 7,2% maior que no último congresso, em 2002), mais ligada ao setor produtivo da economia (28,4% vindos do ramo manufatureiro), mais educada (93,3% completaram ensino intermediário) e pragmática (a maioria ligada às áreas de economia e legislação, ao contrário da atual geração de engenheiros e militares que comanda a China). O encontro também será uma queda-de-braço entre as grandes figuras do partido, com o presidente Hu Jintao buscando mais poder, num momento em que já se começa a pensar em sua sucessão, em 2012.

Muita coisa pode mudar ao longo do encontro de uma semana, mas uma boa pista sobre a real influência de Hu será dada com a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição do PCC. Esta emenda pode incluir no livro central do pensamento comunista chinês a base teórica do pensamento de Hu, o ¿conceito científico de desenvolvimento¿ e a ¿construção de uma sociedade harmoniosa¿.

Ao contrário da ¿Teoria das Três Representações¿ de Jiang Zemin (que colocou o recém-nascido empresariado chinês em pé de igualdade com camponeses e operários no PCC) e da tese do crescimento econômico a qualquer preço, a filosofia do grupo de Hu é focar mais na qualidade do crescimento, com menos distorções de renda e menor agressão ao meio ambiente.

No entanto, o racha na cúpula comunista é grande, especialmente no Comitê Permanente do Escritório Político do Comitê Central, conhecido como Politburo. Neste comitê, metade dos cargos é ocupada por pessoas ligadas à Jiang Zemin. O texto final da Constituição do PCC pode dizer muito sobre quem ganhará a disputa.

Os delegados se reúnem de hoje a domingo e escolherão os novos membros do Comitê Central do PCC, com destaque para o Politburo e seu Comitê Permanente, o grupo de nove homens que define o futuro da China. Mas apesar do caráter mais arejado destas novas lideranças, Li Dongsheng, porta-voz do Congresso, afirmou que não haverá reformas democráticas agora:

¿ Já estamos efetuando as reformas políticas necessárias para fazer frente ao desafio do crescimento na China ¿ disse ele ontem em coletiva a cerca de dois mil jornalistas registrados para cobrir o evento. ¿ Mas não é nossa intenção copiar um modelo ocidental de sistema político para a China. Nós temos nosso próprio sistema socialista com características chinesas.

Meio-ambiente e corrupção preocupam

E esse sistema, liderado pelo partido único, começa a desenhar o futuro próximo da China hoje de olho em desequilíbrios provenientes da própria natureza do crescimento chinês. Ao mesmo tempo em que 250 milhões de pessoas foram tiradas da miséria nos últimos 30 anos, a diferença de renda entre ricos e pobres só faz aumentar. O desenvolvimento econômico explode, mas o preço pago com a destruição do meio-ambiente nunca foi tão alto. E o governo se moderniza, mas a corrupção atinge níveis elevados.

¿ A questão do combate à corrupção estará no centro dos debates deste encontro ¿ diz Li Dongsheng.

Dois nomes estão cotados para serem guindados ao Comitê Permanente do Politburo com grandes chances de substituírem o atual presidente Hu Jintao a partir do próximo congresso, em 2012: Li Keqiang, 52 anos, secretário do partido na província de Liaoning (ligado a Hu). E Xi Jinping, 54 anos, atual secretário do partido em Xangai, ligado a Jiang Zemin e considerado pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, como ¿um homem que realmente sabe ir além de um objetivo em meta¿. Nos bastidores do congresso, Xi Jinping parece ganhar mais espaço como provável líder, o que faria de Hu Jintao um presidente mais fraco do que se imagina.