Título: Lula sobre CPMF: licença de Renan não altera
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 16/10/2007, O País, p. 8

Oposição considera arrogante declaração do presidente sobre votação da prorrogação do tributo.

UAGADUGU (Burkina Faso) e BRASÍLIA. Apesar das dificuldades para a aprovação da CPMF no Senado, onde o governo ainda não tem os 49 votos necessários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou confiança de que os senadores renovarão a cobrança da contribuição até 2011. A oposição reagiu ao que considerou arrogância do presidente. Para Lula, a situação para a votação da CPMF no Senado não fica nem melhor nem pior com a saída do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) do comando da Casa.

- A licença do Renan não altera em nada. Ultimamente o Senado votou todas as coisas que queríamos que fossem votadas, e só agora chegou lá a CPMF. Estou convencido que irá passar (no Senado), como passou na Câmara - disse Lula, em rápida entrevista no palácio presidencial em Uagadugu.

Lula destacou a importância dos recursos garantidos pela cobrança da CPMF, afirmando que o tributo é de interesse do país, não do governo:

- O que o que está para ser votado, a CPMF, não é de interesse do governo, mas de interesse da nação. Afinal de contas, temos R$504 bilhões (recursos do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC) para serem investidos em infra-estrutura. Se você não pode usar esse dinheiro, você tem que mexer em dinheiro de outras áreas. Todo o dinheiro está no mesmo cofre. Todo o dinheiro que está no seu bolso é um dinheiro só.

Relatora reitera que usará todo o prazo regimental

Os líderes do DEM, Agripino Maia (RN), e do PSDB, Arthur Virgílio (AM), criticaram Lula. Já a relatora da emenda na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), Kátia Abreu (DEM-TO), reiterou que usará todo o prazo regimental de 30 dias para dar seu parecer, pela extinção da CPMF.

- Com ar imperial, ele decretou a aprovação da CPMF no exterior. Disse que estava tranqüilo, mas baseado em quê, não sei. E a relatora vai cumprir rigorosamente os prazos regimentais - disse Agripino.

Virgílio disse que o partido esteve aberto para negociar, mas depois foi "maltratado":

- O presidente foi delirante. Atribuo ao fato de ele estar voando. O partido tem se sentido afrontado com o discurso arrogante de Lula, de que seremos responsáveis pelo corte no Bolsa Família sem a CPMF.

O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), apelou para que Kátia Abreu apressasse a entrega de seu parecer. Ele fará novo apelo hoje, em reunião com os líderes. O Planalto deve acionar o governador de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), para tentar sensibilizar a senadora.

- Não estou sentando em cima do relatório em troca de cargos e de Furnas. Sou contra o aumento da carga tributária e vou usar o prazo que considero ideal, vou cumprir o regimento. O governador me conhece e sabe o que pode me pedir.

(*) Enviado especial. O repórter viaja, na África, em avião da FAB