Título: África do Sul em clima de alta de juros
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 16/10/2007, Economia, p. 27

Fórum com Brasil e outros emergentes acontece em momento delicado.

PRETÓRIA. Anfitrião da segunda reunião de cúpula do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (Ibas), que começou ontem e termina amanhã, o presidente sul-africano, Tabo Mbeki, enfrenta um momento delicado na economia. A dois meses das eleições internas de seu partido, o Congresso Nacional Africano (CNA) - que irão decidir seu sucessor -, Mbeki viu o Reserve Bank (banco central) aumentar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros na semana passada, para 10,5% ao ano.

A alta nos juros foi a sétima desde junho de 2006, e teve como justificativa elevações nos preços do petróleo e dos alimentos, que desde abril vêm mantendo a inflação oficial acima do teto da meta, que é de 6% ao ano. O índice CPIX, que pelo modelo local tem de variar entre 3% e 6%, chegou a 6,3% em abril, depois de 43 meses dentro da meta. Em julho, bateu em 6,5%, mas recuou para 6,3% em agosto.

Apesar disso, a nova alta nos juros surpreendeu os analistas locais. Como consideram que já havia sinais claros de desaquecimento, os economistas não esperavam um aperto monetário adicional.

Claramente, diziam alguns analistas, o Reserve Bank sentiu que uma nova alta era necessária para manter a credibilidade da luta contra a inflação. O presidente do banco central, Tito Mboweni, alegou que a batalha contra a alta de preços vai durar mais do que se imagina. Sexta-feira, o Tesouro sul-africano reforçou tal expectativa e anunciou a indexação de alguns títulos à variação da inflação.

O novo ciclo de arrocho monetário, dizem economista, deve dificultar a repetição da taxa de crescimento de 2006, que foi de 5%. Depois de crescer 4,75% anualizados no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) avançou 4,5% no segundo.

Assim como o Brasil fez este ano, Mbeki lançou em 2005 um programa de aceleração do crescimento (AsgiSA, na sigla em inglês). Com metas de no mínimo 4,5% ao ano entre 2005 e 2009, e 6% entre 2010 e 2014, o AsgiSA tem como principal finalidade criar condições de o governo enfrentar o desemprego e a pobreza no país.

Mais de 25% dos sul-africanos não têm trabalho, e o país ostenta um dos maiores índices de homicídios do mundo - 47 por cem mil habitantes. Além disso, tem sérios problemas de infra-estrutura. Os cortes no fornecimento de energia, por exemplo, são freqüentes.

(*) O repórter viajou a convite do governo da África do Sul