Título: Democarcia no discurso, mas não nas telas
Autor: Scofeild Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 16/10/2007, O Mundo, p. 28

PEQUIM. Boa parte do longo discurso do presidente Hu Jintao ontem foi tomado por descrições gerais de como a China progrediu nas mãos do PCC desde que as reformas econômicas foram iniciadas, a partir dos anos 80. O motivo é simples: ainda que a palavra chinesa equivalente a democracia (minzhu) tenha sido citada mais de 60 vezes no discurso, a elite no poder sabe que a estabilidade política estará sempre garantida enquanto a economia mantiver seu crescimento acima de 10% ao ano.

Não foi por outra razão que presidente prometeu quadruplicar a renda dos chineses até 2020. Ao mesmo tempo, nos bastidores, uma regulamentação da Administração Estatal de Rádio, Filme e TV da China ¿ o organismo que decide o que os chineses ouvem e vêem ¿ dava um duro golpe nos programas de reality show caça-talentos, no estilo ¿Fama¿ e ¿American Idol¿. Por um simples razão: eram muito democráticos.

Os programas foram banidos do horário nobre, de 19h30m às 22h30m. Mas o pior golpe é o fim da possibilidade de os chineses votarem em seus candidatos por telefone, internet ou mensagens de celular, em eleições que chegaram a envolver oito milhões de pessoas nas versões dos programas em 2005 e 2006. (G.S.J.)