Título: CPMF: Lula pressiona sua base e até oposição
Autor: Éboli, Evandro e Menzes, Maiá
Fonte: O Globo, 17/10/2007, O País, p. 8

CONFRONTOS NO CONGRESSO: Governo manda tropa de choque ao Senado para tentar apressar votação da prorrogação.

Presidente pede que senadores lembrem discursos de quatro anos atrás, apesar de também ter mudado de opinião.

BRAZZAVILLE (República do Congo) e RIO. Na expectativa de que o Senado aprove a prorrogação da CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou fidelidade dos aliados, dizendo que a base aliada tem de votar com o governo. O presidente deu uma espécie de ultimato aos partidos e mostrou-se irritado:

- Não acho que seja correto, em cada votação, as pessoas apresentarem sua pauta de reivindicação. Na hora de votação não tem negociação. Ou temos uma base aliada construída ou não temos base aliada. É uma base que tem um programa e que foi assinado por todos os partidos que a compõem. Não pode, a cada votação, alguém me entregar reivindicação e dizer que só vota se fizer isso. Assim não faço política. O Senado é soberano para tomar suas decisões. Nosso trabalho é construir a maioria numérica que temos. E precisamos fazê-la funcionar para votar favorável às coisas que o governo precisa votar.

Lula mudou o discurso sobre cobrança da CPMF

Lula provocou os senadores de oposição ao afirmar que, com raras exceções (os novatos), não há um deles que já não tenha votado a favor da CPMF. O tributo foi criado em 1996, como temporário, mas sua vigência foi prorrogada várias vezes.

- Acho importante que todos leiam e releiam os discursos que fizeram há quatro ou há oito anos. E que mantenham a posição que justificaram para votar a favor da última vez - disse Lula em Brazzaville, capital da República do Congo, referindo-se ao DEM e a parte do PSDB, que no passado apoiaram e hoje criticam a CPMF. O próprio Lula, porém, quando era oposição, criticou duramente a CPMF.

O presidente cobrou seriedade e lançou um desafio:

- Se algum senador votar contra, que diga, na hora de votar, onde vamos arrumar R$40 bilhões para fazer o que é preciso fazer. É só isso que quero. Seriedade. Nada mais que isso.

O esforço concentrado para aprovar a prorrogação da CPMF levará amanhã ao Senado uma tropa de choque do governo. Com uma cartada nova: a possibilidade de redução do imposto provisório em 2009. O presidente em exercício, José Alencar, e três ministros conversam hoje com líderes de bancada e presidentes de comissão e acenarão com a perspectiva. O ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, disse ontem, no Rio, que a redução do imposto é um "trunfo".

- Na emenda (que prorroga a CPMF) tem uma válvula, uma porta de saída, que diz que o governo pode, através de um projeto de lei, mandar ao Congresso uma proposta de redução. É um grande trunfo que temos - disse o ministro, em evento sobre biocombustíveis no BNDES.

Vice-presidente e ministros vão ao Senado negociar

Alencar, que participou da posse do empresário Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, em seu quinto mandato na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, confirmou a negociação, e lembrou que qualquer alteração feita agora no texto original da emenda obrigaria o projeto a voltar à Câmara, o que atrasaria a votação e causaria, segundo ele, prejuízos ao país. Alencar irá ao Senado com os ministros interinos Nelson Machado (Fazenda) e João Bernardo (Planejamento), além de José Gomes Temporão (Saúde).

- O que se pode negociar, provavelmente, é alguma coisa mais para a frente, com compromisso seguro para ser cumprido pelo governo - disse Alencar, que chamou a manutenção da CPMF de "antipopular":

- O governo está absolutamente de acordo de que todos somos contra a CPMF. A verdade é que não podemos ser irresponsáveis do ponto de vista fiscal.

Mares Guia disse que o governo não tem alternativa à CPMF:

- Não temos um plano B, mas continuamos as negociações. Nosso calendário prevê a aprovação da CPMF até entre os dias 18 e 19 de dezembro, mas se aprovarmos no dia 22 também está bom.

(*) Enviado especial. Na África, o repórter viaja em avião da FAB