Título: Com 480 mil casos, país tem epidemia de dengue
Autor: Rocha, Luiz Fernando
Fonte: O Globo, 17/10/2007, O País, p. 17

Temporão diz que o governo "está levando uma surra" do mosquito; somente este ano, 121 pessoas morreram.

BELO HORIZONTE. Com 480 mil casos confirmados em 2007, 50% mais que nos primeiros nove meses de 2006, o Brasil já enfrenta uma epidemia de dengue antes mesmo do início do período chuvoso. O número de mortes pela forma hemorrágica da doença também é alarmante. Até agora, 121 pessoas morreram. O quadro preocupante fez o Ministério da Saúde antecipar o lançamento da Campanha Nacional de Mobilização contra a doença.

As peças publicitárias e as estratégias da mobilização foram apresentadas ontem, em um seminário internacional sobre novas tecnologias de prevenção e combate ao mosquito aedes aegypti, em Belo Horizonte. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o governo "está levando uma surra" do mosquito da dengue. Segundo ele, a capacidade de adaptação do aedes aegypti está surpreendendo os especialistas. O ministro lamentou as mortes:

- Essa epidemia é preocupante por vários motivos, principalmente pelas características do vírus, que tem quatro sorotipos, e três deles já circulam no Brasil. Poderíamos ter impedido todas as mortes. Vamos distribuir um CD-Rom para cada médico, para que ele possa estar informado sobre a doença, para que o atendimento se faça de maneira mais precoce e possamos evitar as mortes.

Mato Grosso do Sul já tem 72 mil casos confirmados

A situação é pior em Mato Grosso do Sul, que tem 72 mil casos confirmados (3.099 casos de dengue para cada grupo de 100 mil habitantes). O estado em melhor situação é Santa Catarina, com 7,5 casos por 100 mil habitantes. Na soma dos três estados do Sul, o aumento no número de casos confirmados de janeiro a setembro chega a 828% em comparação com igual período do ano passado, enquanto na Região Sudeste esse aumento não chega a 20%.

Proporcionalmente, o Sudeste ainda tem mais casos, mas o avanço da doença no Sul já preocupa. Para Helvécio Magalhães, secretário de Saúde de Belo Horizonte e presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, a situação no Sul mostra a capacidade de adaptação do mosquito transmissor. Antes, acreditava-se que ele não era capaz de se reproduzir em climas mais frios:

- Estamos reivindicando mais recursos, mais apoio do ministério e dos governos estaduais para um trabalho sustentado.

Os especialistas reunidos no seminário admitiram que as políticas adotadas pelos gestores estão em acordo com o padrão considerado adequado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPS). Segundo eles, é necessário envolvimento de todos os municípios.