Título: Brasil cai no ranking de investimento direto
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 17/10/2007, Economia, p. 30

Apesar de aumento dos recursos externos para US$18,8 bi em 2006, país voltou a recuar entre emergentes.

SÃO PAULO. O Brasil voltou a cair no ranking dos países emergentes que mais receberam investimento estrangeiro direto (IED) em 2006. Relatório divulgado ontem pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostra que, embora o fluxo de recursos externos tenha aumentado de US$15 bilhões, em 2005, para US$18,8 bilhões no ano passado, o país caiu da quinta para a sexta posição no ranking dos emergentes. Em 2005, tinha recuado de quarto para quinto.

O México, único país latino-americano que havia superado o Brasil em 2005, quando ocupou a quarta posição com US$18 bilhões em IED, manteve-se à frente no ano passado, mesmo tendo caído para o quinto posto, com US$19 bilhões.

Na liderança dos emergentes mais atraentes para investimentos estrangeiros, a China se manteve em primeiro, com US$69,5 bilhões. Hong Kong (que, embora tenha sido integrado à China, é tratado de forma diferenciada pela Unctad) permaneceu em segundo, com US$42,8 bilhões. As novidades foram a ascensão da Rússia, embalada por investimentos no setor de petróleo, que saltou para o terceiro posto, com US$28 bilhões recebidos ano passado. Com um programa de privatizações, a Turquia aparece na quarta posição, com US$20 bilhões.

- À exceção da Turquia, ajudada por privatizações, China e Rússia são economias que se abriram mais recentemente, depois do Brasil, o que explica estarem atraindo mais recursos - observa o economista Antônio Corrêa de Lacerda, membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), responsável pela divulgação do estudo da Unctad no Brasil.

Lacerda observa que, quando se tomam os estoques de IED em relação ao PIB, o Brasil aparece com 21%, maior que os 20% da Rússia e quase o dobro dos 11% da China. Na mesma comparação, a Índia, que completa o grupo chamado Bric, dos países emergentes com maior potencial de crescimento, tem estoque de IED equivalente a 6% do PIB.

Investimento no exterior superou entrada de recursos

O diretor-presidente da Sobeet, Luis Afonso Lima, estima que o Brasil deverá receber cerca de US$34 bilhões em investimentos estrangeiros diretos este ano, o que significará um salto de 80% sobre 2006 e provavelmente ajudará o país a retomar posições no ranking de IED da Unctad.

Se perdeu espaço no ano passado como receptor de investimentos, o Brasil se destacou entre os países que mais investiram fora de suas fronteiras, com US$28 bilhões. Foi a primeira vez que a saída de recursos superou as entradas, o que colocou o país na 12ª posição entre as nações que mais investiram no exterior. Para Lima, o desempenho representa "um ponto fora da curva", já que US$17 bilhões corresponderam ao desembolso da Companhia Vale do Rio Doce na aquisição da mineradora canadense Inco.

Mas, mesmo sem o negócio que foi considerado o quinto maior do mundo no ano passado, o Brasil ainda seria o maior investidor latino. Os mexicanos investiram US$5,8 bilhões, contra US$2 bilhões de Chile, Venezuela e Argentina. A Sobeet estima que os investimentos brasileiros este ano superem os US$11 bilhões do ano passado (desconsiderada a transação da CVRD).

- É uma tendência que veio para ficar entre os emergentes, que cada vez mais aparecerão como exportadores de capital - diz Lacerda.