Título: Bush recebe Dalai e enfurece China
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 17/10/2007, O Mundo, p. 34

Líder tibetano será homenageado pelo Congresso, com a presença do presidente.

Em meio ao 17º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCC) ¿ o evento político mais importante do país e que pretende escolher uma futura geração de líderes chineses ¿ o governo de Pequim reagiu com indignação à intenção do Congresso dos Estados Unidos de condecorar hoje o líder budista tibetano Dalai Lama. Ontem, o presidente americano, George W. Bush, encontrou-se na residência presidencial, de forma reservada, com o religioso que pede maior autonomia para a região do Tibete, que a China afirma ser seu território.

O Dalai Lama vai receber hoje a Medalha de Ouro do Congresso, a maior honraria civil do país, numa cerimônia que contará com a presença de Bush. Será a primeira vez que um presidente dos EUA no exercício do cargo aparecerá em público ao lado do Dalai Lama. Isso está irritando os chineses, que reclamam de os EUA estarem se intrometendo nos assuntos internos do país. O porta-voz do Ministério do Exterior da China, Liu Jianchao, disse que o prêmio teria um ¿impacto extremamente sério¿ nas relações entre os países.

¿ A China está profundamente incomodada, se opõe resolutamente a esta cerimônia e já deixou isso claro numa mensagem solene ao governo de Washington. ¿ afirmou Liu Jianchao. ¿ Nós pedimos aos americanos que corrijam este erro, cancelem a cerimônia e parem de interferir em assuntos domésticos da China. As palavras do Dalai Lama nos últimos anos mostram que ele é um refugiado político engajado em atividades separatistas em nome da religião.

Outros funcionários chineses usaram um tom ainda mais duro.

¿ Estamos furiosos. Se o Dalai Lama pode receber tal prêmio, então não deve haver mais justiça e pessoas boas no mundo ¿ disse o chefe do Partido Comunista da China no Tibete, Zhang Qingli.

A assessoria de imprensa da Casa Branca buscou minimizar o encontro entre Bush e o líder tibetano, recusando-se até mesmo a revelar a que horas o encontro de ontem aconteceria. No fim da tarde, a reunião foi confirmada, frisando-se que ocorreu na residência presidencial, e não no Salão Oval, reservado para reuniões com chefes de Estado. Segundo o porta-voz Gordon Johndroe, o encontro durou apenas meia hora. Nenhum jornalista presenciou a reunião, e nenhuma foto foi divulgada.

Ao voltar para o hotel em que está hospedado, o Dalai Lama estava sorridente e disse que a reunião com Bush foi ¿como uma reunião de família¿:

¿ Naturalmente, ele mostrou preocupação com o Tibete e perguntou sobre a situação lá.

Como uma primeira reação, Pequim está disposta a dificultar as negociações sobre o programa nuclear iraniano no âmbito da ONU. Esta semana, a China deixou de comparecer a uma reunião com outras potências sobre o assunto no Conselho de Segurança. Semanas atrás, Pequim cancelou uma reunião anual sobre direitos humanos com a Alemanha, depois que a chanceler federal Angela Merkel se reuniu, em setembro, com o Dalai Lama.

Ainda este ano, o líder religioso tibetano se encontrou com o chanceler federal austríaco, Alfred Gusenbauer, e com o premier da Austrália, John Howard.

De acordo com o governo americano, o presidente da China, Hu Jintao, foi avisado pessoalmente de que Bush compareceria à entrega da medalha ao Dalai Lama há dois meses, durante uma reunião na Ásia. Fontes diplomáticas confirmam que desde então Pequim vem pressionando para que o evento seja cancelado.

Nos últimos dias, a imprensa estatal chinesa iniciou uma campanha agressiva contra o Dalai Lama, acusando-o de apoiar o que Pequim chama de ¿cultos maléficos¿, que incluem a seita Falun Gong, o culto japonês Aum Shinrikyo e o Culto ao Templo Solar, nos EUA.

*Com agências internacionais

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