Título: No Irã, Putin adverte EUA contra ação militar
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Fonte: O Globo, 17/10/2007, O Mundo, p. 35

Presidente russo articula acordo para impedir uso de bases no Mar Cáspio em ataque e defende programa nuclear iraniano.

TEERÃ. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, deixou ontem claro aos Estados Unidos que não aceitará uma ação militar contra o Irã e persuadiu outras nações do Mar Cáspio a descartarem o uso de suas bases para esse fim. Em visita a Teerã para a reunião de cúpula do Mar Cáspio, Putin defendeu ainda o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear pacífico e convidou o presidente Mahmoud Ahmadinejad a visitar Moscou.

¿ Não devíamos sequer pensar no uso de força na região. Não podemos sujeitar nossa terra aos demais para que ataquem países costeiros do Cáspio. Devemos concordar que o uso do território do Mar Cáspio num caso de agressão a um aliado é impossível ¿ disse Putin aos presidentes de Irã, Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão.

Documento apóia direito a energia nuclear pacífica

O alvo do comentário seria o Azerbaijão. Segundo a imprensa russa, militares americanos têm inspecionado aeroportos daquele país, tentando negociar o uso de suas bases militares, o que é negado pelo Azerbaijão.

Putin chegou ontem a Teerã para o encontro entre os cinco Estados do Mar Cáspio, uma região rica em petróleo e reservas de gás, em meio a rumores de planos de atentado contra ele. Prometia usar a diplomacia para resolver o impasse sobre o programa nuclear iraniano, que potências ocidentais temem ter fins bélicos. Mas o que se viu foi um reforço das diferenças de posição entre Rússia e EUA.

Na declaração final da reunião, os países do Cáspio afirmam que ¿sob nenhuma circunstância permitirão o uso do território para lançar agressões ou outras ações militares contra qualquer Estado-membro¿. O documento também apóia o direito dos signatários do Tratado de Não-Proliferação ¿ que inclui o Irã ¿ a desenvolver energia nuclear pacífica. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, elogiou a declaração, classificando-a como ¿muito forte¿.

Perguntado sobre a declaração do presidente russo de que ¿não se deveria sequer pensar no uso de força na região¿, o porta-voz da Casa Branca Tony Fratto disse simplesmente que parecia ser ¿uma boa política¿.

Trata-se de uma visita histórica, num momento delicado. Putin é o primeiro líder do Kremlin a viajar ao Irã desde 1943, quando Josef Stalin participou de uma reunião com Winston Churchill e Franklin Roosevelt em Teerã. E enquanto EUA e França pressionam o país para suspender o enriquecimento de urânio, Putin ressaltou que as ¿atividades nucleares pacíficas devem ser permitidas¿.

¿ Os iranianos estão cooperando com agências nucleares russas e seus principais objetivos são pacíficos ¿ afirmou.

A Rússia está construindo a primeira central nuclear do Irã e resiste à pressão dos EUA para impor sanções mais fortes a Teerã. Mas a central nuclear de Bushehr, no sul do país, está atrasada. Putin disse que o atraso não se deve a motivos políticos. Segundo ele, quando a Rússia assinou o contrato em 1994, encontrou muitas peças obsoletas, que precisam ser repostas.

Ahmadinejad fala em frente comum contra ameaças

Após a cúpula, Putin se reuniu com Ahmadinejad e o aiatolá Ali Khamenei. Após o encontro, Ahmadinejad anunciou a criação de uma frente comum para ¿enfrentar as ameaças atuais¿, tanto regionais como internacionais.

¿ Temos que cooperar para repelir perigos já existentes ¿ disse Ahmadinejad a Putin.

Por sua vez, Putin disse que Irã e Rússia apostam num cenário internacional multipolar como alternativa ao sistema proposto pelos EUA:

¿ Os EUA não podem nos impor um sistema unipolar porque nenhuma potência é capaz de resolver todos os problemas sozinha ¿ disse ele, segundo a agência estatal iraniana Irna.