Título: Casal Sarkozy à beira da ruptura
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 17/10/2007, O Mundo, p. 35

Rumores de separação do presidente e da primeira-dama tomam a França

PARIS. Já correm mensagens por telefone entre os jornalistas, do tipo: ¿separação/divórcio, hoje na hora do almoço¿. Paris está tomada por rumores sobre o final de 11 anos de casamento entre o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e Cecília, uma ex-modelo de 49 anos. Se acontecer, será a primeira vez que um presidente francês vai se separar durante o mandato.

¿ Eu não tenho comentários sobre isso ¿ respondeu esta semana o porta-voz do presidente, David Martignon, impaciente com as repetidas perguntas dos jornalistas.

Cecília não esconde aversão ao papel de primeira-dama

Ninguém no governo confirma a notícia oficialmente. Como o governo tampouco nega, isso só alimenta a especulação. Separação ou não, o fato é que Cecília Sarkozy reinventou o papel da primeira-dama na França. Ela está cada vez mais ausente dos compromissos oficiais, e não esconde que não gosta do protocolo rígido. Em maio, mal Sarkozy foi empossado, ela partiu antes do previsto da reunião do G-8 ¿ o grupo dos 7 países mais ricos, mais a Rússia ¿ na Alemanha para o aniversário de sua filha Jeanne-Marie.

Quando estava de férias com Sarkozy nos Estados Unidos, em agosto, ela dispensou um convite para um churrasco com George W. Bush e sua mulher, dizendo estava com infecção na garganta. Sua única atuação visível como primeira-dama, entretanto, não foi pequena. Enviada especial do marido à Líbia, ela conseguiu a liberação de cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestino presos há anos pelo regime de Kadafi sob a acusação de que haviam contaminado com o vírus da Aids crianças líbias. As circunstâncias da liberação instigaram a oposição francesa, que quis ¿ mas não conseguiu ¿ convocar Cecília para explicar tudo ao Parlamento.

Depois disso, Cecília se recolheu. Este mês, ela era esperada em Sófia, capital da Bulgária, para o que deveria ser uma celebração da libertação das enfermeiras búlguras. Preferiu ficar em Paris. No jogo contra a Nova Zelândia que classificou a França para a semifinal no campeonato de rúgbi, Nicolas Sarkozy foi acompanhado da ministra da Justiça, Rachida Dati. Um jornal suíço disse que ela estava num spa em Genebra com diária de mil dólares. Foi também sem a primeira-dama que o presidente francês viajou para sua primeira visita oficial à Rússia. E é sem ela que ele partirá agora para visitar o Marrocos. Cecília estaria indo cada vez menos ao Palácio do Eliseu.

A grande imprensa francesa silencia sobre o assunto, como de praxe. Os franceses falam com desprezo da tradição dos americanos de investigar vida privada de político. O grande público passou anos sem saber que o presidente François Mitterrand teve uma filha ¿ Mazarine Pingeot ¿ fora do casamento, embora todo mundo na ¿corte¿ soubesse que ele se encontrava escondido com ela. No final de sua vida, ainda presidente, Mitterrand assumiu a paternidade publicamente.

Reconciliação poucos meses antes da eleição

Mas com Nicolas Sarkozy e Cecília tem sido diferente. Por causa de Sarkozy, um político que sempre utilizou a mídia, os dois sempre estiveram sob os holofotes da imprensa. Quando foi ministro no governo de Jacques Chirac, sua mulher pairava como uma sombra. O seguia por todos os lados e tinha até gabinete próximo ao do marido. Mas em 2005, o casal entrou em crise e se separou por alguns meses. Cecília foi fotografada com o publicitário Richard Attias, e correram rumores de que Nicolas Sarkozy tinha uma relação com a jornalista Anne Fulda, do jornal conservador ¿Le Figaro¿. O casal se reconciliou poucos meses antes da eleição de Sarkozy, mas desde então Cecília ¿ conhecida por ser uma mulher independente ¿ tomou distância.