Título: Salvador: porta para fraude
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 18/10/2007, Economia, p. 40

Executivo detalha esquema em pólo.

SALVADOR E ILHÉUS. Vinte e cinco toneladas de mercadorias pertencentes a 17 empresas, entre elas a Cisco Systems, estão retidas na alfândega no Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães, em Salvador. O valor oficialmente declarado dos produtos é de US$14 milhões. Porém, o montante deve ser maior, visto que ingressavam no país num esquema fraudulento em que, entre outras irregularidades, havia subfaturamento. O material foi apreendido anteontem pela Operação Persona.

Salvador era a principal porta de entrada dos equipamentos fraudados, a maior parte deles de alta tecnologia para redes corporativas, internet e telecomunicações. João Vicente Velloso, inspetor-chefe da Alfândega do aeroporto, estima que 80% do material vinham por via aérea, em vôos cargueiros semanais vindos dos Estados Unidos. O restante entrava por portos. Os produtos retidos na operação ingressaram no país esta semana.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Eletroeletrônicos de Ilhéus e Itabuna (Sinec), coronel Gentil Pires, confirmou que todas as empresas do Pólo de Informática de Ilhéus importam mercadorias por intermédio de escritórios de Miami. Segundo ele, esse é um procedimento normal, embora a Polícia Federal suspeite de fraude.

Um executivo do pólo contou, sob condição de anonimato, como funcionaria o esquema de fraude. O escritório de Miami compraria, por exemplo, um componente por R$50 e o venderia para a "indústria-cliente" no Brasil por R$25. A diferença de preço é paga, como afirma o executivo, "por baixo do pano", com recursos gerados a partir da venda de produtos sem nota fiscal.

O esquema permitiria que as empresas camuflassem parte dos valores das operações e, com isso, recolhessem menos impostos. De acordo com essa fonte, seriam três os crimes: subfaturamento, venda sem nota fiscal e remessa ilegal de dinheiro para o exterior.

Com faturamento de R$1,9 bilhão em 2006, as 57 indústrias no pólo de Ilhéus abastecem 20% dos computadores comercializados no Brasil.

(*) Da Agência A Tarde