Título: Mortes sem justificativa
Autor: Carvalho, Ana Paula de
Fonte: O Globo, 19/10/2007, O País, p. 3

Ministro da Saúde responsabiliza também médicos e pacientes por epidemia de dengue.

Depois de admitir que o país enfrenta uma epidemia de dengue, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ontem que é injustificável o número de mortes causadas pela doença, que já matou 121 pessoas de janeiro a setembro deste ano, o segundo pior índice de mortalidade por dengue desde 2002. O ministro, porém, passa a maior parte da responsabilidade para médicos e pacientes:

- Não há justificativa para que uma pessoa hoje no Brasil morra de dengue. A questão importante é que, ao primeiro sintoma, as pessoas procurem o serviço de saúde - disse, em visita ao Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, onde anunciou verbas de R$157 milhões para o Paraná.

Temporão, que é médico, criticou o que chamou de despreparo dos médicos para detectar a doença a tempo e conter o número de mortes:

- Os médicos precisam estar preparados e sintonizados para ver que podem estar diante de um caso que pode evoluir para uma forma mais grave - disse ele, sem explicar, porém, por que o Ministério da Saúde não treina melhor os médicos.

Situação fora de controle

A aposta do governo para conter o avanço da doença é fazer campanha permanente de mobilização. Ele admitiu que as campanhas só são lançadas no verão, quando o problema se agrava, e disse que o governo fará campanhas direcionadas a cada região:

- Não podemos mais ficar em esforços espasmódicos. Nos verão todo mundo se mobiliza, depois pára, e aí se esquece de combater a dengue. Agora, vai ser o ano todo, o tempo todo. Vamos mudar o enfoque e priorizar especificidades regionais, ver qual o problema mais importante e direcionar mídia específica para isso.

Na região Nordeste, que concentra 30% dos casos da doença, Temporão espera contar com o apoio do Programa Saúde Familiar (PSF) para atuar de forma integrada com os agentes comunitários:

- É a região com mais cobertura do PSF, que pode trabalhar com agentes comunitários na visita domiciliar e passar informação qualificada para que as famílias controlem os focos.

Para o ministro, a situação está fora de controle e precisa mobilizar cada cidadão para que faça sua parte.

- É impossível um exército de agentes que visite todas as casas, todos os meses. Não há dinheiro nem gente para isso. É preciso transformar cada cidadão em agente - afirmou.

Temporão disse que a dengue é um problema sistemático do país pela falta de infra-estrutura:

- A dengue não é uma doença fácil de controlar pelas condições de habitação de grande parte da população e da dificuldade dos guardas em entrar nas casas por violência ou por preconceito, além da acomodação de que alguém vem resolver para mim. Não virá. As pessoas têm que ter consciência de que é problema de cada um.

O ministro disse que os investimentos do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) podem trazer impacto positivo no combate à doença.

- Quando se realizam obras de infra-estrutura urbana, controlando o acúmulo do lixo, você enfrenta estruturalmente situações que podem levar à proliferação do mosquito.