Título: À sombra da corrupção
Autor:
Fonte: O Globo, 19/10/2007, O Mundo, p. 32

Premier 2 vezes, Benazir não concluiu mandatos.

Primeira mulher eleita premier num país islâmico, Benazir Bhutto e sua família pagaram um alto preço por sua posição na política paquistanesa. Ela tinha pouco mais de 20 anos quando o pai, Zulfikar Ali Bhutto, então primeiro-ministro, foi deposto, preso e executado pelo general Muhammad Zia-ul-Haq. Benazir foi condenada a cinco anos de prisão e seus dois irmãos foram assassinados. Mais tarde, ela se tornaria por duas vezes premier: de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996, mas não conseguiu completar nenhum dos mandatos, acusada por corrupção. Seu marido ficaria conhecido como ¿Senhor 10%¿, por supostas comissões cobradas em contratos públicos.

Ela nasceu em Karachi, em 21 de junho de 1953, e estudou ciências políticas em Harvard, nos EUA, e Oxford, Inglaterra. Com 24 anos, voltou para casa pouco antes de seu pai ser deposto. Acabou por assumir o comando do Partido do Povo do Paquistão (PPP), que Zulfikar fundara em 1967. Passou longos períodos na prisão, até que em 1984 partiu para o primeiro exílio em Londres, de onde regressou dois anos depois, sendo recebida por um milhão de pessoas. Transformada em símbolo da modernidade, curvou-se às tradições do país, e em 87 se casou com Asif Zardari, num noivado acertado entre as famílias. O casal teve três filhos.

¿ Num casamento arranjado se entra com poucas expectativas. E isso, de certa forma, torna mais fácil a convivência ¿ disse certa vez, sobre o assunto.

A morte do general Zia num acidente de avião em 1988 e a realização de eleições a catapultaram ao poder em 2 de dezembro daquele ano, mas em 6 de agosto de 1990 o presidente Ishaq Khan a destituiu, acusando-a de abuso de poder, nepotismo e corrupção. Ela voltou ao poder em 1993, mas três anos depois foi novamente destituída por corrupção, má gestão econômica e morte de presos. Benazir acabou deixando o país para um exílio voluntário, de onde só retornou ontem.