Título: Putin cobra dos EUA retirada do Iraque
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 19/10/2007, O Mundo, p. 33

Presidente russo eleva tom de críticas à Casa Branca, exalta arsenal nuclear do país, anunciando novas armas.

MOSCOU. Na sua mais longa entrevista dos últimos oito anos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, aumentou o tom de suas declarações contra o que entende ser ações unilaterais americanas em sua política externa. Ele exortou os Estados Unidos a fixarem um prazo para sair do Iraque e destacou o desejo de controle das reservas de petróleo do Golfo Pérsico como uma das motivações de Washington para a invasão do país. O líder russo também deixou claro que o seu país pode adotar medidas de retaliação se o governo americano não levar em consideração as preocupações de Moscou diante da instalação de um sistema antimísseis na Europa.

O presidente russo cobrou dos americanos uma data para a retirada das suas tropas do Iraque. Se isso não acontecer, segundo ele, o governo iraquiano se manteria inativo por se sentir seguro e protegido sob ¿o guarda-chuva americano¿:

¿ As autoridades iraquianas vão poder trabalhar para valer na melhoria das suas próprias Forças Armadas se souberem a data exata da retirada.

Regime de ocupação do Iraque é ¿inadmissível¿

Ele acrescentou que os americanos estão comprometidos com uma batalha que não leva a lugar algum.

¿ Pode-se derrubar um regime tirânico, como o de (Saddam) Hussein, mas não faz sentido lutar contra um povo ¿ disse. ¿ É inadmissível perpetuar o regime de ocupação.

Putin aproveitou para exaltar o poder das Forças Armadas russas, anunciando que uma renovação militar ¿grandiosa¿ está sendo realizada.

¿ A Rússia, graças a Deus, não é o Iraque. Tem forças e recursos suficientes para defender a si mesma, seus interesses em seu próprio território e, certamente, também agir em outras regiões do mundo.

Putin confirmou que até 2015 o país terá armas novas atômicas.

¿ Não prestamos atenção só ao trio estratégico (nuclear), composto pelas Forças Armadas estratégicas, a aviação estratégica e a frota de submarinos nucleares, mas também de novos tipos de armamentos ¿ disse ele, que mandou uma mensagem para os EUA, que pretendem instalar uma sistema antimísseis na Europa Central. ¿ Advertimos nossos parceiros que, caso tomem decisões sem levar em conta os interesses de segurança da Rússia, adotaremos medidas em resposta.

Uma das perguntas selecionadas foi a de um morador de Kaliningrado, enclave russo na fronteira com a Polônia, que quis saber se Moscou poderia colocar lançadores de armas nucleares lá. Putin disse que sim.

O programa de perguntas e respostas ocorre anualmente e Putin falou durante mais de três horas, respondendo a mais de 50 das 1,3 milhão de questões. A maior parte das perguntas foi sobre assuntos domésticos.

Ele não deu pistas sobre quem apoiará para ser seu sucessor nas eleições do fim do ano, mas afirmou que as reformas iniciadas em seu governo devem continuar.

Putin pregou também um papel mais forte para o Parlamento. Isso foi entendido por especialistas como uma forma de campanha para continuar influindo no governo russo, possivelmente como primeiro-ministro. Ele já anunciara que concorrerá a uma vaga no Parlamento como cabeça da chapa de seu partido, o Rússia Unida.

*Com agências internacionais