Título: PSDB negocia CPMF, mas impõe condições
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 20/10/2007, O País, p. 8

Partido exige redução da carga tributária e dos gastos públicos, e alerta que parte dos senadores é contra o tributo.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Numa reunião capitaneada pelos governadores tucanos de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, o PSDB anunciou ontem estar disposto a negociar com o governo federal e votar a favor da prorrogação da cobrança da CPMF com alíquota de 0,38%. Mas com uma condição: quer como contrapartida o compromisso de reduzir a carga tributária e os gastos públicos e de dar mais recursos para a Saúde. Caso contrário, o partido diz que o Planalto enfrentará os tucanos no Senado e adverte que o governo nunca conseguiu aprovar projetos na Casa sem seus votos. Para o PSDB, o tempo de negociação se esgota.

- A CPMF não passa sem os votos do PSDB. Sem uma negociação menos autoritária e mais brasileira, a CPMF não passa - disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), designado porta-voz do grupo após a reunião de ontem.

Pré-candidatos querem evitar perda de arrecadação

Em encontro de quase duas horas no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, tanto Serra como Aécio, nomes que devem disputar o posto de presidenciável tucano em 2010, justificaram que o PSDB não tem como hábito votar contra "apenas por votar".

Líderes tucanos ponderaram que a contribuição foi criada na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como forma de investir na área da saúde, comandada por Serra entre 1998 e 2002. Segundo participantes, tucanos, em especial Serra, acreditam que uma redução da alíquota da CPMF que afetasse só os anos finais do governo Lula, como 2010, apenas prejudicaria o próximo presidente, que pode ser do PSDB. Isso porque a maior queda na arrecadação se daria nos anos subseqüentes.

- Os dois governadores concordaram que a bancada conduziu corretamente o assunto e que cabe a ela continuar conduzindo. Se acontecer um acordo possível, ótimo. Senão, vamos bater chapa. Mais jogo de cintura além do que estamos tendo, só se entrássemos no PT - resumiu Virgílio.

Também participaram do encontro o presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), o líder do PSDB na Câmara, Antônio Carlos Panunzio (SP), e o senador Sérgio Guerra (PE). Segundo Virgílio, parte dos senadores tucanos já trabalha para derrubar a proposta. Por isso, disse, ou o governo acelera as negociações ou dificilmente o comando tucano conseguirá fechar questão sobre o assunto:

- Daqui a pouco não teremos mais liderados. Chega um momento em que não adianta mais tentar impedir o fechamento de questão, porque nossos senadores estão progressivamente assumindo compromissos contra a CPMF.

Ainda assim, mais que apresentar eventuais contrapropostas como base para negociação (como a redução da alíquota da CPMF e sua repartição aos estados e municípios), os tucanos se concentraram ontem num debate nacionalizado.

- A bancada e governadores acham que está na hora de um rebaixamento da carga tributária e de conclamarmos o governo a gastar menos. Nosso tempo em relação à soberba do governo está se esgotando - disse Virgílio, que ironizou a reunião marcada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a próxima quinta-feira:

- Se eles não estão com pressa, só nos resta torcer pelo Felipe Massa no domingo.

Os tucanos decidiram não participar de uma reunião com o presidente Lula, restringindo a negociação à equipe econômica.

COLABOROU Cristiane Jungblut