Título: Pastor da Universal destrói imagens sacras
Autor: Barros, Higino
Fonte: O Globo, 20/10/2007, O País, p. 16

Peças esculpidas por índios guaranis e tombadas pelo Iphan foram queimadas num templo da igreja.

PORTO ALEGRE. Duas imagens sacras históricas, tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foram queimadas pelo pastor Fábio Guimarães da Silva Pereira, da Igreja Universal do Reino de Deus, no templo, durante culto religioso mês passado em São Borja, a 566 quilômetros da capital gaúcha.

As duas imagens, de Nosso Senhor Morto e de São Pedro, pertenciam à família de Oraides Chagas e faziam parte de lote de oito imagens de madeira, esculpidas por índios guaranis e cadastradas pelo Iphan.

O Ministério Público pediu investigação da Polícia Federal para apurar se houve responsabilidade criminal do pastor. Os promotores querem saber se ele furtou as imagens, já que ninguém da família admite tê-las cedido, e se tinha conhecimento de seu valor histórico.

Segundo o promotor Érico Fernando Barin, o pastor Pereira se aproximou da família no primeiro semestre deste ano, prometendo fazer orações para curar Leôncio Ajala Chagas, que sofria de câncer e morreu em julho.

Os Chagas haviam resolvido doar as peças ao Museu Municipal, e quando foram procurá-las constataram que as duas imagens do século XVII tinham desaparecido. Desconfiados do pastor, os filhos o denunciaram à direção do museu.

Em sua defesa ao MP, o pastor alegou que as imagens foram doadas a ele em troca de orações e que não sabia que tinham valor histórico. Pereira contestou também a legitimidade do MP para acioná-lo criminalmente, mas admitiu que a prática de queimar imagens é comum nos cultos da Universal, usada para ¿promover a libertação espiritual¿ de seus seguidores.

São Borja é uma cidade que faz parte dos Sete Povos das Missões ¿ reduções de índios guaranis fundadas em 1636 por missionários jesuítas e consideradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Dessa época restam apenas 82 peças no estilo barroco jesuítico, das quais 35 estão no Museu Municipal Aparício Silva Rillo, de São Borja, 13 com a Igreja Católica e o restante em casas de famílias da região, cuja posse é cadastrada pelo Iphan.