Título: Gastos podem virar inflação
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2009, Economia, p. 19

Ainda que as medidas fiscais adotadas por governos de todo o mundo como políticas anticíclicas para estimular a economia abalada pela crise sejam bem-vistas neste momento, há o temor de que gastos exagerados se transformem em inflação futura, a ponto de os bancos centrais serem obrigados a elevar as taxas de juros daqui a dois ou três anos. O alerta dominou parte dos debates do World Economic Forum na América Latina, sobretudo por causa do histórico da região, marcado por décadas de descontrole fiscal.

No entender de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, o Brasil, que ontem reduziu a meta de superávit primário de 3,8% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), não fez a lição de casa por completo. Em vez de ampliar os investimentos, o país contratou gastos com o funcionalismo público que não poderão ser revertidos no futuro. ¿Temos que investir mais e poupar mais. O governo precisa ser mais eficiente em seus gastos¿, afirmou.

Para Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional e atual secretário de Finanças do Rio de Janeiro, não somente o Brasil, mas toda a América Latina precisa se focar no que gasta, não no quanto gasta. A seu ver, é justamente a falta de foco que faz com que a região gaste mal com setores estratégicos, como saúde e educação. ¿Pressões fiscais existem em vários países, mas é preciso maior produtividade, usar os recursos públicos da melhor forma possível para prover à população do que ela precisa¿, destacou.

Segundo Javier Santiso, economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as economias mais ricas do mundo, a atual crise coloca os países latino-americanos diante de seu primeiro desafio em vários anos: navegar nas águas turbulentas da recessão mundial. E isso exigirá políticas fiscais consistentes. (VN)