Título: Maioria prevê recessão
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2009, Economia, p. 19

Economistas presentes ao Fórum Econômico Mundial acreditam que produção brasileira cairá este ano, mas apostam em recuperação a partir de 2010 porque país está saudável

Apesar de todas as medidas anunciadas pelo governo para estimular a economia, como o corte de impostos em vários setores produtivos e a liberação de R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios para destravar o crédito, o Brasil deverá fechar o ano com queda de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). É esse o consenso entre os participantes do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial) na América Latina, que reúne cerca de 500 participantes de 37 países. A expectativa é de que somente no fim deste ano ou início de 2010, a economia brasileira retome o fôlego.

Na avaliação de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, independentemente da retração do PIB, provocada pela crise financeira que varreu o mundo, há um lado positivo que não pode ser esquecido. ¿Não vemos nenhum sinal dos desequilíbrios que levaram à crise global. O Brasil entrou na crise sem grandes alavancagens (em dívidas) por parte das empresas, do governo e das famílias, mesmo com o crescimento do crédito. Os bancos estão saudáveis e o balanço de pagamentos (com o exterior), bem financiado¿, disse.

Segundo Fraga, também a inflação saiu do foco de problemas, o que permitirá ao Banco Central continuar cortando juros nos próximos meses. Essa redução, acrescentou o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, terá, entanto, que ser rápida, pois os sinais de reação demonstrados pela economia ainda são tímidos. ¿Tudo indica que fecharemos o ano com retração de 1% no PIB e não descarto uma queda maior, de 1,5%¿, afirmou. Pelas suas contas, somente para fechar o ano com variação zero frente a 2008, a indústria terá que crescer de 35% até dezembro. ¿O que eu considero impossível.¿

Para o presidente da Fiesp, o ideal é que a taxa básica (Selic) caia dos atuais 11,25% para 7%, o que resultará em juros reais de 3%, quando descontada a inflação de 4% projetada para o ano. Com isso, destacou, o crédito, que continua travado para a maioria das empresas, voltará a jorrar, estimulando os investimentos e a criação de emprego. ¿Não adianta falar em um mercado interno forte se as empresas e os consumidores não tiverem crédito a juros menores¿, destacou. ¿O governo, incluindo o Banco Central, tem de ser mais ágil e adotar medidas mais realistas, como a queda dos juros¿, emendou.

Ajuda do FMI Para Alicia Ibarra, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), ainda que os números projetados para o PIB dos países latinos neste ano sejam negativos, é preciso ressaltar que a região foi a menos afetada pela crise. Tanto que a retração deverá ser de 0,3% ante a queda próxima de 2% prevista para o mundo. Ela ressaltou ainda que a América do Sul está sendo menos prejudicada pelas turbulências internacionais que a América Central e o Caribe, porque essas regiões são mais dependentes da economia americana, que está mergulhada em uma grave recessão.

A despeito do otimismo que tentou demonstrar, principalmente em relação ao Brasil, Alicia afirmou que as medidas de estímulos fiscais adotadas pela maioria dos governos devem ter foco para serem eficientes e evitar que a América Latina se torne exportadora de desempregados. A secretária-executiva também destacou a urgência de o Fundo Monetário Internacional (FMI) usar os US$ 750 bilhões que receberá dos países do G-20 para ampliar as linhas de crédito ao comércio internacional, hoje um problema gravíssimo.