Título: Uma herança passada de pai para filho
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 21/10/2007, Rio, p. 19

Os primeiros cartórios no Brasil surgiram ainda no período colonial, apenas nas maiores cidades: no interior, os registros civis eram feitos nas igrejas católicas. Desde o Brasil Colônia, os cartórios eram distribuídos aos íntimos dos poderosos: amigos do rei e pessoas influentes na Corte. A titularidade passava de pai para filho ou para um parente do tabelião.

A troca de comando era semelhante à das capitanias hereditárias. Os titulares podiam indicar seus substitutos, e, como quase sempre seus parentes já trabalhavam nos cartórios, a administração foi por muito tempo passada de pai para filho, de tio para sobrinho etc. Mas, já na República, cartórios também foram distribuídos por presidentes. Juscelino Kubitschek entregou um para um empresário casado com uma sobrinha sua. Até o médico do presidente, Luís Noveli, ganhou um.

Com a Constituição de 1988, as regras mudaram. Nem o presidente pode distribuir cartórios e, em caso de morte do titular, o cargo deverá ser ocupado por um tabelião aprovado em concurso público.