Título: Renan volta ao Senado e tenta salvar mandato
Autor: Lima, Maria e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/10/2007, O País, p. 4

Presidente licenciado acredita que será abandonado pelo governo após a votação da prorrogação da CPMF.

BRASÍLIA. Longe dos holofotes desde que se afastou da presidência do Senado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), deve reaparecer esta semana no Congresso para intensificar as articulações a fim de tentar salvar o seu mandato. Sua estratégia é conseguir a absolvição antes da votação da CPMF, pois avalia que será abandonado pelo governo depois que ocorrer a votação da prorrogação do tributo.

Na volta, Renan quer garantir também a participação na articulação para indicar seu sucessor, caso tenha que renunciar à presidência definitivamente. Nas conversas com líderes do PMDB nos últimos dias, o presidente licenciado tem dito que tem poder de fogo para ajudar a eleger ou inviabilizar qualquer nome.

Defesa sobre sociedade em rádios no máximo até quarta

Nesta quarta-feira, vence o prazo para que ele entregue sua defesa escrita no caso da sociedade secreta na compra de um jornal e duas rádios com o usineiro João Lyra em Alagoas. Mas o relator Jefferson Peres (PDT-AM) pede que ele entregue logo hoje para agilizar os depoimentos das testemunhas.

Há uma expectativa com o retorno de Renan e seu comportamento como simples senador no plenário, sob a presidência do petista Tião Viana (PT-AC). Os renanzistas estão irritados com o que chamam de apetite do petista para permanecer no cargo por mais tempo.

- Para Renan, não interessa que a CPMF seja votada antes da solução do caso dele - afirmou o líder tucano, senador Arthur Virgílio (AM).

Mas há consenso no Senado que Renan volta ao Congresso com o clima bem menos tenso, e que a estratégia de afastamento surtiu efeito imediato. Também acreditam que o peemedebista perdeu fôlego.

- Ninguém mais fala em Renan. Esse virou um assunto secundário - observou a líder do PT, Ideli Salvati (SC).

Falta de provas preocupa relator do processo

O relator Jefferson Peres está preocupado com a fragilidade da documentação e a dificuldade em convencer testemunhas chaves, como Lyra, a prestarem depoimento no Conselho de Ética. Lyra admite ser ouvido reservadamente, mas descarta depoimento público e acareação com Renan. Até agora ele só tem recibos de pagamento dos veículos de comunicação, mas nenhum assinado por Renan. Lyra teria uma carta assinada pelo senador se comprometendo a ajudar na aprovação de renovação de concessões de rádios. Esse documento ainda não foi entregue, mas também não ligaria Renan à compra das rádios e o jornal.

- É difícil, mas estou correndo atrás. Assim que Renan entregar a defesa, quero ouvir a contestação de João Lyra, seja por carta ou depoimento reservado - disse Peres.

Até mesmo a oposição está cautelosa em relação à cassação do mandato de Renan nesse e nos demais processos.

- Temos que esperar os relatórios. Não é possível condenar ou absolver ninguém antecipadamente. Agora, já houve uma bela distensionada com o afastamento. Esse tema não está na ordem da semana. É preciso ver o que sairá dos relatórios - disse Virgílio.

"O Renan está numa operação de vítima"

Para tentar conseguir a absolvição, Renan já começou a colocar a estratégia em prática nos últimos dias. Ao invés das ameaças que marcou os quase cinco meses em que ficou na presidência depois que estourou o escândalo, Renan passou a ligar para senadores com um ar de vítima. Num tom humilde, tem dito que já perdeu tudo e que só resta o seu mandato.

- O Renan está numa operação de vítima. Ele vai chegar humilde no Senado. É um discurso para sensibilizar os senadores - disse o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

Renan deve enfrentar obstáculos para a sua estratégia.

- Se houver relatório recomendando a cassação, e o Senado absolver o Renan, quem morre somos nós, senadores - advertiu o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).